ABARRACAMENTO | Rio das Flores

O principal acesso para se chegar à sede do distrito do Abarracamento é a RJ-135, uma rodovia estadual que liga a cidade de Rio das Flores à BR-393, também conhecida como Rodovia Lucio Meira ou Rodovia do Aço.

A RJ-135, sob responsabilidade do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-RJ) é a principal via de acesso ao Abarracamento, distrito que fica na área rural de Rio das Flores. 


O percurso de 28,5km é feito em leito de terra batida e vem sendo preparado para receber uma camada de asfalto. Do Centro de Rio das Flores até o povoado são 12,2km, enquanto que a distância, para quem se encontra na BR-393, é de 16,3km.

A viagem começando na cidade de Rio das Flores tem os primeiros quilômetros em subida, onde a estrada adentra a área rural do município, com a paisagem formada de morros tomados por pastagem e alguns grotões remanescentes de Mata Atlântica. Trecho correspondente a Serra das Abóboras – formação montanhosa que faz parte da Serra da Mantiqueira e divide as águas do Rio Paraíba do Sul e do Rio Preto.



No caminho, avistam-se antigas fazendas, sítios e velhas casas de colono (muitas desocupadas). Em certo momento aparece, encravado num pequeno vale, um prédio fechado, conhecido como “Venda do Belém”, que foi um importante estabelecimento comercial na região. Após 10km, a estrada passa por um agrupamento de casas.


Cerca de dois quilômetros à frente, chega-se à secular capela, inserida num diminuto núcleo urbano, construído pela prefeitura há cerca de dez anos, que abriga um conjunto de casas de padrão popular, um galpão onde funciona uma cooperativa de costura, uma quadra poliesportiva e a praça comunitária, todos erguidos pela prefeitura. A capela e o cemitério, que fica mais afastado, do lado oposto da estrada, revelam que este ponto marca o núcleo histórico do 4º distrito rio-florense, inserido num vale cercado de morros, onde se veem roçados, pastos e pequenas matas e, próximo às construções, uma plantação de eucalipto e um milharal.

Zona urbana de Abarracamento - Foto: Prefeitura Municipal de Rio das Flores

A implantação do loteamento deixou a capela posicionada na curva da via interna. A capela de São Pedro do Abarracamento foi edificada no final do século XIX em terras da fazenda de mesmo nome, de propriedade do casal Francisco Gonçalves Portugal e Inocência Francisca Julia. Em 1893, o citado casal fez doação para mitra Diocesana, do terreno no entorno da Capela, para formação do “patrimônio do santo”, bem como para a construção de um cemitério. Sua origem se assemelha a dos demais templos religiosos que surgiram no território do município, em meio às mudanças ocasionadas pela abolição da escravidão (1888) e o declínio da cultura cafeeira.


Entre 1813 e 1817 é aberta a Estrada do Comércio, construída pela Real Junta de Comércio, Agricultura, Fábrica e Navegação do Estado do Brasil e Domínios Ultramarinos, daí o nome Comércio. A estrada partia do Porto de Iguaçu, no rio de mesmo nome, próximo ao Caminho Novo, mas, em lugar de subir rumo a Paty do Alferes, tomava a direção mais para o sul, galgando a serra do Mar, em trecho que foi chamado serra da Estrada Nova — entre as serras do Tinguá e de Sant’Ana — e passando Vera Cruz, Massambará, até atingir as margens do Rio Paraíba do Sul.

Daí dividia-se: um braço rumava rio abaixo, entrava pela Fazenda de Ubá, até encontrar o Caminho Novo e o da Estrela; o outro cruzava o rio, cuja travessia era feita por meio de balsa. Nesse ponto foi instalado um registro de mercadoria, que deu origem à localidade de Comércio. Desse local, a estrada seguia para o Porto dos Índios (nas margens do Rio Preto), mas antes, nas proximidades de Taboas, cruzava a estrada aberta por Rodrigues da Cruz, em 1801, que segue para a Aldeia de N. Senhora da Glória de Valença, atual cidade de Valença, até atingir a Vila de Nosso Senhor dos Passos do Presídio de Rio Preto, na divisa da província de Minas Gerais.


Segundo o Relatório da Presidência da Província do Rio de Janeiro de 1835, p. 28, esta estrada ainda não tinha atingido a Província de Minas, como objetivava. Ao longo do século XIX, surgiram várias derivações dessa estrada, a maioria delas construídas dentro dos municípios de Valença e Vassouras. Observe-se que grande parte dessa estrada ainda existe e permanece em uso. É importante ressaltar que sua construção beneficiou, sobretudo, as principais fazendas do Barão de Ubá, constituídas, à época, de um complexo de 14 sesmarias, capitaneadas pelas propriedades de Ubá e Cazal.

O Barão de Ubá, um dos mais importantes membros da Junta de Comércio, foi sem dúvida nenhuma um grande articulador da construção da estrada.

Beneficiamento de Café da Fazenda Cachoeira Grande no final do século XIX ,quando a fazenda pertencia à família Ferreira Leite Guimarães - Foto: RJ. Marc Ferrez


1900 o atual município de Rio das Flores possuía 18 mil habitantes, sendo que cerca de mil moravam na sede. Acredita-se que grande parte da população era constituída por ex-escravos, que após a libertação foram trabalhar como colonos nas fazendas, agora adaptadas para pecuária leiteira. A concentração das pessoas na área rural levou ao desenvolvimento e a criação de pequenas nucleações (também conhecidas como arraiais), onde havia comércio, escola, cartório, cemitério e capela.

Praça do Abarracamento às margens da RJ-135 - Foto: Reprodução da internet

O local da Fazenda do Abarracamento era conhecido desde princípios do século XIX, quando da abertura da Estrada denominada “Caminho do Rio Preto” construída por José Rodrigues da Cruz em 1801. Importante via de acesso da região esta Estrada fazia a ligação da localidade de São Sebastião do Barreado (distrito de Santa Bárbara do Monte Verde-MG), na divisa com a província de Minas, com o Porto de Ubá, nas margens do Rio Paraíba do Sul. Posteriormente, nas proximidades da Fazenda de São Pedro do Abarracamento, na bifurcação da citada Estrada com o Caminho para o Porto Velho foi construída um venda para atender os tropeiros e passantes, que deu ao lugar o nome de “vendinha”.  No dia 13 de outubro de 1891, é criado o distrito de Abarracamento, pelos decretos estaduais nº 1, de 08-05-1892 e nº 1-A, de 03-06-1892.


No passo dos trilhos, os trabalhadores da Estrada de Ferro Dom Pedro II construíram suas pousadas entre as cidades já existentes, como Barra Mansa e Volta Redonda, caminho de São Paulo; Vassouras e Três Rios, rumo a Minas Gerais. Eram usadas no meio do mato, onde peões ferroviários guardavam material de construção, ferramentas e alimentos. A concentração de peões trazia os mascates, a expectativa de comércio e o crescimento atraía as olarias - e as pousadas viraram vilas e caminhavam para ser cidades. Surgidas da necessidade dos trabalhadores na estrada de ferro, tinham nos trilhos o eixo de sua economia - por ali recebiam mantimentos e notícias de outros lugares e escoavam a produção agrícola. Pequenos proprietários de terra estabeleceram-se e as vilas eram quase auto-suficientes.



Quando o trem acabou, na década de 1970,  Aristides Lobo, Demétrio Ribeiro, Barão de Vassouras, Sebastião de Lacerda, Aliança, Casal, Carlos Niemeyer, Andrade Pinto tornaram-se cidades mortas. Algumas, cidades-fantasma: Casal e Carlos Niemeyer viveram o êxodo total e hoje apenas as ruínas de suas igrejas sem altar e casas trancadas e desertas vivem ali. Na estação agora inútil, o sempre grandioso prédio da administração e do almoxarife perdeu as telhas importadas de Marselha e as vigas de pinho de riga.

As cidadezinhas perderam suas características mais pela ação do tempo, pois mesmo o roubo predatório ficou difícil com a ausência do trem". A estação de Casal, que tomou o nome de uma antiga fazenda do local, foi inaugurada em 1867. Servia, em 1928, ao distrito de Abarrancamento. Na década de 1990, nada mais restava dos antigos armazéns que abasteciam a região com legumes e grãos. O êxodo havia sido total, e ninguém mais vivia em Casal

A partir da segunda metade do século XX, a localidade do Abarracamento sofreu com o êxodo rural, tornando-se o território do município de Rio das Flores que mais perdeu população. Situação que começou a se reverter nas últimas décadas, quando a capela de São Pedro teve sua paisagem alterada a partir da década de 2005 com a construção de um conjunto habitacional no seu entorno, visando oferecer moradia aos colonos das fazendas e dos sítios das redondezas.



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