A área em que se cogitou abrigar a cidade de Isabelópolis hoje se encontra em terras da Reserva Biológica do Tinguá. Estando em ruínas escondidas sobre a vegetação de Mata Atlântica. Isabelópolis, nome sugerido pelo idealizador da homenagem, o nobre Francisco Peixoto de Lacerda Werneck, o Barão de Paty do Alferes, formaria com Petrópolis e Teresópolis um corredor de cidades serranas fluminenses em homenagem à família imperial.
O nome batizaria o antigo distrito de Sant’Anna das Palmeiras, criado em outubro de 1855 sob forte lobby do barão, com o intuito de concretizar seu projeto, e pertencente à Vila de Iguassu, atual Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
Mas, da cidade que desapareceu do mapa antes mesmo de ser oficializada, restaram só as ruínas da Igreja de Sant’Anna, a imagem da padroeira e os livros de registros de nascimentos e óbitos do distrito, que fazem parte do acervo da Cúria Diocesana de Nova Iguaçu.
As histórias da Vila de Iguassu e Sant'Anna das Palmeiras estão relacionadas uma a outra. O povoado e o território onde cogitou-se a criação do município de Isabelópolis, têm origem na Vila de Iguassu. A primeira freguesia da região originou-se em 1637 às margens do rio Pilar, afluente do rio Iguaçu, que foi elevada a Freguesia por volta de 1699. Nesse ano foi autorizada a abertura do Caminho Novo em direção a Minas Gerais que teve origem no porto da Vila da Estrela.
Nessa época o Arraial de Nossa Senhora da Piedade do Iguassu também já possuía seu porto às margens do Rio Iguassu, navegável até boa distância terra a dentro.
Em 1750 seria elevada à Freguesia. Um grande impulso seria a interligação de seu porto ao Rio Paraíba. A ligação da Corte com as Minas Gerais sempre esteve entre as prioridades da Coroa. Até o final do século XVII essa rota era feita por Paraty; em 1699 foi aberto o “Caminho Novo” com origem no porto de Pilar e em 1725 a “Variante do Proença” teve origem no porto da Estrela.
Abertura da Estrada Real do Comércio
A Inglaterra (1760) - com a Revolução industrial - deu início à modernidade capitalista. O militarismo de Napoleão tenta dar-lhe combate. Portugal e Inglaterra são aliados. A política napoleônica proíbem que os portos continentais recebam navios britânicos (Bloqueio continental). Portugal "não respeita" e é invadido. A Família Real foge para o Brasil. Na Bahia, o Príncipe Regente Dom João decreta a "Abertura dos portos às nações Amigas".
Os administradores do reino invadem a cidade do Rio de janeiro. Ainda como resultado da citada revolução - querendo dotá-la de melhoramentos, institui a 'Junta Real do Comércio'. Em 1811, numa reunião, nesta junta foi cogitada a abertura de uma estrada , a "Real do Comércio". Até, então, só existia só existia um caminho vencendo a "Cerra Tingoá" ou seja, o "O Caminho do Azevedo", até Paty do Alferes. Os caminhos do ouro não passavam por lá.
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Em verde, o trajeto da Estrada do Comercio em mapa de 1892 |
A Estrada do Comércio ficou pronta em 1822 com origem no porto de Iguassu, atravessando a Serra do Tinguá e, passando por Estiva (atual Miguel Pereira), Arcadia e Vera Cruz atingindo o porto de Ubá (atual distrito de Andrade Pinto em Vassouras), às margens do Rio Paraíba. O engenheiro Conrado Niemeyer seria o responsável em 1842 pela obra de reconstrução e calçamento da via tendo inclusive morado aos pés da serra no atual distrito de Conrado em Miguel Pereira que o homenageia.
Além do Maciço do tinguá as mercadorias produzidas desciam, de serra - acima', pelos caminhos do ouro, produtos que demoram a chegar ao Rio de Janeiro por causa das navegações fluviais- marítimas.
A abertura da Estrada Real do Comércio, abastecendo os trapiches da Povoação de Iguassú, acionou o movimento comercial (de passagem) iguassuense.
A Revolução Industrial fabricou a Estrada Real do Comércio, incrementando produções e exportações. Estabeleceu importantes transformações no eixo Iguassú - Paraíba do sul. As serranias próximas ao referido roteiro foram ocupadas.
O progresso da freguesia com a abertura da nova estrada e o aumento do tráfego comercial com o advento do ciclo do café no vale do Paraíba nas primeiras décadas do século XIX impulsionaram a criação em 1833 da Vila do Iguassu, com sede no antigo Arraial de Nossa Senhora da Piedade do Iguaçu. Escaramuças políticas com Pilar e Estrela levaram a uma temporária extinção da vila entre 1835 e 1836.
À nova Vila foram incorporadas as freguesias de Santo Antonio do Jacutinga, NS do Pilar, Merithy e NS da Conceição do Marapicu. A sede da vila permaneceu em Nossa Senhora da Piedade do Iguaçu. Com a prosperidade trazida pelo café, uma nova freguesia viria a ser criada no território de Iguassu, a Freguesia de Santana das Palmeiras.
Origem do Território
No dia 13 de agosto de 1743, Inácio Dias da Câmara Leme, funda o denominado Morgado de Belém. As terras, que até então pertenciam à Freguesia de Paty do Alferes, passou à Freguesia de Sacra Família de Tinguá, a partir de 1750. Inácio leme, o primeiro Morgado, foi mais tarde sucedido por seu pai, Fernando Paes Leme, o Marquês de São João Marcos, que deu à localidade grande desenvolvimento.
Pedro Dias Paes Leme, o primeiro filho do casal Fernando/Francisca, veio a ser uma das figuras mais ricas, conhecidas e respeitadas no Brasil ao longo do século XIX, em especial na área do Sul Fluminense circunscrita pelas Freguesias de Sacra Família do Tinguá, Vassouras e Paraíba do Sul, estendendo ainda sua influência para a atual região do Município de Rio Claro.
Além de incentivar a lavoura, montou vários engenhos de açúcar, construiu inúmeras casas, erigiu a Igreja do Menino de Deus de Belém, inaugurou a primeira escola (em 1872) e até criou um teatro. Ainda por influência do marquês, foi construída a Estrada de Ferro de Dom Pedro II, cuja estação Belém foi inaugurada em 8 de dezembro de 1858.
O Morgado de Pedro Dias Paes Leme englobava uma vastíssima sesmaria que possuía duas léguas e meia de testada por duas de fundo, alcançando a atual área de Sacra Família do Tinguá, descendo para a baixada que compreende o atual distrito miguelense de Conrado e o logradouro vizinho de Paes Leme, atravessando terras de Japeri e Paracambi para atingir o Município de Rio Claro, em cujo território nasceu o belo distrito de São João Marcos.
Como se pode depreender, Pedro Dias Paes Leme exerceu um papel preponderante na colonização de quase toda a baixada hoje pertencente a Miguel Pereira, tanto que, em finais do século passado, uma parada da ferrovia foi denominada Paes Leme em homenagem à família.
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Paes Leme é o primeiro e mais expressivo logradouro do município de Miguel Pereira - no sentido de quem viaja do Rio de Janeiro para a Serra - e em sua periferia situam-se os limites geográficos do território miguelense com o município de Japeri. Seu nome derivou do de Fernão Dias Paes Leme, dono da fazenda Santana, situada próxima à estação de Mario Bello, na linha do Centro, fazenda por onde a linha Auxiliar veio a passar. Paes Leme difere bastante das demais localidades do município pelo simples fato de se localizar rigorosamente no âmago da chamada baixada miguelense (sua altitude é de apenas 49 metros em relação ao nível do mar). Percorrendo entre Japeri e Paes Leme, descortina-se, por um largo espaço, um admirável panorama da baixada miguelense. Uma imensa e verdejante esplanada, serena, pontilhada por árvores robustas e persistentes, serve de palco para os passeios do gado indolente e saudável, criado pelos fazendeiros e sitiantes locais. |
Por outro lado, a estação ferroviária e a cidade que conhecemos como Japeri nasceram nas terras formadoras de sua famosa e rica fazenda chamada Belém. Com a morte de Fernando Paes Leme, seus herdeiros venderam, em 1890, todo o acervo da fazenda de Belém à Companhia Industrial de Seda e Ramie, que dissolvida em 1904, distribuiu suas terras entre seus acionistas, sendo a maior parte, vendida à Empresa de Obras Públicas do Brasil, sendo repassada, dois anos depois, para Raimundo Otoni de Castro Maia.
A partir desta época, as terras de Belém passam a viver algo que se pode chamar de peregrinação geográfica, sendo anexadas a outras localidades, de tempos em tempos. Em 1906, a localidade, então distrito de Vassouras cede uma parte de seu território para Nova Iguaçu, anexando-o ao 2º distrito daquele município (Queimados). No ano seguinte, o distrito de Tairetá volta a ser 7º distrito de Vassouras, e só em 1947 Belém passa a chamar-se Japeri. No ano de 1951, a antiga Belém passa a constituir, juntamente com Engenheiro Pedreira, o distrito de Japeri, 6º distrito de Nova Iguaçu.
Progresso e origem da Vila de Sant'Anna das Palmeiras
A região de Sant’Anna, a futura Isabelópolis, era cortada pela Estrada do Comércio, uma das principais vias de escoamento do café das fazendas do Sul do estado, e de produtos vindos de Minas Gerais. Foi próspera até por volta de 1880, quando atingiu seu auge. Mas vieram a estrada de ferro, que esvaziou a Estrada do Comércio, e a ampliação da rede de abastecimento de água da Corte, com a captação na região.
Fazendeiros da Serra do Tinguá doaram terras para o Império, e imóveis em Sant’Anna foram desapropriados, tudo visando ao reflorestamento para preservação dos mananciais. A belíssima imagem de Santana, bem como, o sino, foram transferidos para a igreja de Conrado, localidade atualmente distrito da cidade de Miguel Pereira.
Oficialmente, a Vila de Iguassu não foi extinta, pois a sua sede foi transferida para Maxambomba – hoje Nova Iguaçu. O fato é que, uma importante unidade político-econômica representada pelas freguesias de Iguassu e de Sant'Anna das Palmeiras foi extinta e de suas sedes só restam umas poucas ruínas. Assim, a atual Nova Iguaçu guarda pouca ou praticamente nenhuma relação histórica e econômica com aquele núcleo original.
A freguesia de Sant'Anna das Palmeiras foi criada pelo Decreto Provincial n.º 813 em 8 de outubro de 1855 na serra do Tinguá, às margens da Estrada Real, como um importante entreposto do café produzido no vale do Paraíba. Seu território abrangia a serra até os limites de Vassouras e sua área era a maior entre todas as freguesias que compunham a vila de Iguassu, o equivalente a um terço de todo o seu território.
Decadência das Freguesias
As duas principais freguesias sofreriam não poucos reveses econômicos nos próximos anos que, combinados, se revelariam fatais para a existência das freguesias:
- A Estrada de Ferro Dom Pedro II chegou a Ubá em Vassouras em 1867 oferecendo transporte mais seguro e rápido para o porto do Rio de Janeiro. Além disso, o progresso de Maxambomba, importante estação no mesmo município, foi um fator de atração da população da antiga vila;
- O desmatamento e a falta de saneamento – males de toda a baixada – provocaram o assoreamento do Rio Iguaçu e seus afluentes e causaram doenças e endemias;
Outro importante fator foi a imperiosa necessidade de melhorar o abastecimento de água da Capital, sendo a serra do Tinguá um importante manancial que deveria ser preservado, o que mais tarde se tornaria a Reserva Biológica do Tinguá.
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Represa do Garrão em Xerém. O 4º distrito de Duque de Caxias e situa-se na subida da Serra Fluminense. - Foto: Reprodução da internet |
Uma adutora entre o Caju e os mananciais e represas foi aprovada e uma ferrovia construída entre 1875 e 1882 para apoiar o projeto – a EF Rio d’Ouro. Esta passaria por perto da vila, mas sua estação, também chamada Iguassu, não teve nenhuma relação com ela.
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Baldwin passando sobre uma ponte ao lado da adutora da Estrada de Ferro Rio D'Ouro - Foto: Carlhoinz Hahmann |
A Linha Auxiliar chegou em 1898 à vertente norte da serra com as estações Sertão (Conrado), Santa Branca e Bonfim.
Pelo Decreto Estadual n.º 204, de 01 de maio de 1891 a sede do município de Iguaçu foi transferida para a estação de Maxambomba, mantendo o nome até 1916, quando passou a Nova Iguaçu. A vila passaria a distrito com o nome original de Nossa Senhora do Iguassu mas este foi renomeado Cava por volta de 1920, encerrando o uso do nome.
O povoado, próximo a Iguassu, ganharia uma estação da linha-tronco da Estrada de Ferro Rio D'Ouro em 1883. Elevado a distrito com a transferência da sede de Iguassu por volta de 1920, seria renomeado Estação Jose Bulhões em 1924 e retornaria ao nome original em 1939.
O lugarejo humilde e pouco povoado da Freguesia de Piedade do Iguassú com seus moradores locais crédulos a sua Nossa Senhora, passou a viver outras dinâmicas de vida a partir da chegada da estação e de seus trens a vapor. Período em que o local ermo e esquecido passou a ter importância para capital e para o Império.
E das janelas dos trens, os olhos dos moradores de Vila de Cava, avistariam as mais belas paisagens, contrastadas com a modernidade ofertada pela chegada da linha Rio D`Ouro.
A antiga José Bulhões recebeu o nome da sua estação ferroviária no final do século XIX, Vila de Cava do Sapê, assim chamada devido à grande quantidade de capim Sapê na região.
Esta pertenceu ao sub-ramal do Rio D´Ouro como uma Linha Auxiliar, cuja construção foi iniciada ainda no governo imperial, com o intuito de transportar materiais e operários para a construção de um aqueduto, que seria usado para a capitação de água que sairia da região brejeira, rica em abundantes mananciais, em direção à capital.
A transferência da sede da vila de Iguassu para Maxambomba marcou o fim da freguesia, transformada em distrito de Iguaçu (Maxambomba) em 1892. No processo de mudança, os fiéis levaram a imagem de Santana e o sino da igreja matriz para a nova igreja de Santana, inaugurada em 1901 no atual distrito de Conrado (hoje município de Miguel Pereira). Da freguesia, restam somente ruínas dentro da reserva ecológica do Tinguá.
A transferência da sede da vila de Iguassu para Maxambomba marcou o fim da freguesia, transformada em distrito de Iguaçu (Maxambomba) em 1892. No processo de mudança, os fiéis levaram a imagem de Santana e o sino da igreja matriz para a nova igreja de Santana, inaugurada em 1901 no atual distrito de Conrado (hoje município de Miguel Pereira). Da freguesia, restam somente ruínas dentro da reserva ecológica do Tinguá.
O povoado de Sant'Anna das Palmeiras, migra em 1892 para Santa Branca das Palmeiras, hoje no distrito de Conrado. Naquele mesmo ano, a localidade era nomeada Livramento das Palmeiras, no mesmo distrito. Em 9 de agosto também do mesmo ano, a fixação da agencia dos correios (e futura estação da ferrovia) na Ponte da Estrada do Bonfim, contribuiu para o surgimento do povoado. O local é hoje a vila de Arcádia.
Já pertencendo ao município de Nova Iguaçu, o distrito de Santana das Palmeiras foi renomeado Santa Branca em 1919 e depois Bonfim (atual Arcádia) em 1924. Quando o distrito de Bonfim foi extinto em 1943, seu terrotório foi anexado à Vila de Cava.
No mesmo ano, o distrito de Bonfim é desmembrado de Nova Iguaçu e anexados a Sacra Família do Tinguá em Vassouras.
Em 1957, o antigo território de Sant'Anna das Palmeiras e desmembrado de Sacra Família do Tinguá e dá origem a um novo distrito no município de Vassouras, denominado Conrado.
Com a criação do município de Miguel Pereira, emancipado de Vassouras, o distrito de Conrado com área de 98 km2, assim como o distrito de Governador Portela são desmembrados de Vassouras e passam a formar o novo município.
O território do Distrito de Conrado manteve o topônimo ao constituir o 3º Distrito do Município de Miguel Pereira.