TRÊS IRMÃOS | Cambuci

A história da ocupação da região onde hoje é Três Irmãos começa com a fundação da Aldeia da Pedra.

Estação Três Irmãos em 2006

O Frei Tomás de Civita Castello, capuchinho italiano vindo de Lisboa, recebeu do bispo Dom José Joaquim de Mascarenhas a incumbência em tom de ordem de rumar para a missão de São Fidélis, fundada pelos frades Ângelo e Vitório.



O Frei Ângelo recebeu com simpatia o jovem de menos de vinte anos que havia ingressado na Ordem com pouco mais de dezesseis, conhecendo o português falado no Brasil, com noções da língua tupi-guarani e iniciado na arquitetura.

D. Marcos de Noronha, Vice-Rei do Brasil, encarregou Frei Tomás de Civita e Castello da paroquiação dos índios que somavam 50 até 100 famílias. À nova Aldeia com 30 famílias de Caiapós e 80 de Coroados, totalizando 226 indígenas, foi chamada Aldeia da Pedra, recusando-se os índios a chamá-la de Dom Marcos.



A Aldeia corria mansamente e sem grandes progressos, a não ser na agricultura rudimentar, por meados de 1810.

Casarão antigo - Foto: Antonio Nunes

Os índios viviam da extração de madeira e pequenos roçados, ao passo que ricos iam abocanhando as férteis terras da Aldeia da Pedra.

No ano de 1812, o Padre Antonio chegou a um vilarejo independente, formado por alguns índios e brancos. Ali, construiu a Capela de Santo Antonio, tornando a vila conhecida como Vila Nova, logo incorporada à Aldeia da Pedra. 



No dia 24 de novembro de 1812, o bispo José Caetano da Silva Coutinho passou pela Aldeia da Pedra, que na época chamava-se D. Marcos, elevando-a a categoria de Curato, sob as bênção de São José de Leonissa da Aldeia da Pedra, nomeando como o primeiro cura frei Tomás de Civita Castello.

Praça de Três Irmãos - Foto: Antonio Nunes


Ele foi incansável na tentativa de paroquiar os índios, catequizando-os. Conseguiu aldear os Coroados. Frei Tomás morreu em 16 de abril de 1828, sem conseguir totalmente o seu objetivo. Para sucedê-lo, veio o Frei Florido de Castello.



A Aldeia da Pedra, pouco a pouco, foi sendo tomada pelos colonizadores portugueses, pelos emigrantes turcos, italianos e mesmo por nacionais brancos filhos e netos de colonizadores portugueses, chegando muitos com cartas de arrematação de bens penhorados pela Fazenda Nacional.

Travessia Três Irmãos (Cambuci) ↔ Portela (Itaocara) sobre o Rio Paraíba do Sul - Foto: Iris Paula

Os índios Coroados foram instalados na Água Preta, em terreno demarcado. Ali construíram suas tabas. Eles que construíram a Igreja de São José, nela já não podiam entrar. Também já não podiam banhar-se ou pescar nas águas do Paraíba. Os Puris não se fixaram e não iam mesmo a Aldeia da Pedra. Com o tempo, veio a emancipação e a região foi se degradando. Vila Nova voltou a ser um pequeno vilarejo.



O Padre Antonio Martins Vieira saiu pelas margens do Rio Paraíba construindo capelas e catequizando no ano de 1812. Joaquim Noberto de Sousa e Silva, grande historiador, afirma: "... A sede do Curato de Santo Antonio de Pádua, local onde viveu o Padre Antonio, foi criado em 1812 e tinha posição geográfica onde hoje se situa o Distrito de Três Irmãos".

Capela de Santo Antônio, símbolo na fundação de Três Irmãos - Foto: Raphael Barros

O Padre Antonio faleceu em 1838 no 6º distrito, onde sempre viveu, tendo seu nome registrado e muito homenageado pela comunidade. Assim que estava fundada a Vila Nova, marcada pela construçao da Capela de Santo Antônio, o vilarejo pasosu a ser parte da Aldeia da Pedra.

Com a emancipação da aldeia e degradadação da região, Vila Nova voltou a ser um vilarejo sem importância económica e social. Vila Nova era distrito de Itaocara, município originado da Aldeia da Pedra. No entanto, a vila não recebia qualquer tipo de infra-estrutura, vivendo numa sociedade sem chefes, apenas o líder Padre Antônio.



A fundação de Três Irmãos data da época do desbravamento nos anos de 1890, sendo os principais fundadores os irmãos Aguiar, João, José e Francisco. Esses Três Irmãos chegaram na época dos índios, onde era tudo mato e eles tinham como iniciar um lugarejo. Então os três saíram de Campos, acompanhados de vários caboclos, dentre eles índios, para procurar determinada região onde teria condição de começar a abrir um arraial.

Ao norte Três Irmãos (Cambuci) | ao sul Portela (Itaocara) - Foto: Reprodução da internet

Então eles foram desbravando o interior da mata e se perderam. Os dias foram se passando e os mantimentos foram se escasseando. Até que um caboclo encontrou uma picada de facão num pedaço de mato. Então ele chamou os demais que havia encontrada algo que poderia dar salvação. Então eles foram seguindo os cortes no mato e chegaram numa pequeno vilarejo de cerca de 50 habitantes, liderados pelo Padre Antônio.



Inicialmente, a região era apenas um povoado com cerca de 50 pessoas. Com a chegada do Padre Antônio e a construção do Curato de Santo Antonio, o padre fundador deu à vila o nome de Vila de Santo Antônio, ao passo que o povo em geral a chamava de Vila Nova. Em 1813, os Irmãos Aguiar desenvolveram um grande poderio econômico, e a sociedade triirmanense aproveitou para ter um sistema sólido de administração. Com o sucesso dos irmãos, a vila ficou famosa como a Vila dos Três Irmãos.

A partir de um sistema econômico baseado na pecuária bovina e, principalmente, plantação de café, os Irmãos Aguiar fundaram a vila de Três Irmãos, que também passou a se distrito de Itaocara.

Comboio da Ferrovia Centro-Atlântica S.A. passando por Três Irmãos
Locomotiva GM G12, original da RMV nº2207, atual FCA nº4155
Foto: Raphael Barros

A Estação Ferroviária de Três Irmãos foi inaugurada em 1883, na então freguesia de São José de Leonissa. Na década de 20, o distrito era considerado rico e populoso. Havia grandes fazendas de café. Eram consideráveis também as plantações de cana de açúcar e cereais, bem como a criação de gado bovino. Exportava aves e ovos, além de carne e cana.



Nessa época havia três engenhos de beneficiamento de café e também três destilarias que fabricavam aguardente. Durante o período em que só havia o transporte ferroviário, através da Estrada de Ferro Leopoldina, Três Irmãos era passagem obrigatória pára diversos municípios da região, fazendo a ligação destes aos grandes centros urbanos, como Campos, Niterói e Rio de Janeiro.

Foi nesta época em que o local experimentou o desenvolvimento. Na época, havia hotéis, pousadas, pensões e outros estabelecimentos que marcavam o sucesso econômico da vila.



Linha cargiera da FCA - Ferrovia Centro-Atlântica no distrito de Três Irmãos - Foto: Reprodução 

Conforme o Decreto Estadual nº. 1063, de 28 de janeiro de 1944, passou a ser Distrito de Cambuci. A partir do decreto, Três Irmãos ficou como o 6º distrito de Cambuci, e passou a ser considerado, depois da sede Cambuci, o distrito mais importante e notável da região. 



Com o desenvolvimento do sistema rodoviário, os vagões de classe foram retirados, deixando a população empobrecida, impedindo que a população pudesse comercializar seus produtos. Com este esvaziamento ferroviário no distrito de Três Irmãos, os hotéis foram transformados em residências , e só restou no povo triirmanense a lembrança dos tempos dos cafezais e das destilarias.

Três Irmãos (Cambuci) ao norte, Portela (Itaocara) ao sul - Foto: Open Street Maps

O comércio restringe-se a pequenos bares e mercearias, que vendem produtos de primeira necessidade. A base econômica de Três Irmãos é a agropecuária, responsável por 90% dos recursos do distrito. A criação é principalmente de gado bovino, de corte e de leite, e cultivo de arroz, cana de açúcar, milho e feijão.

A cultura de economia de subsistência vem crescendo bastante, como pequenas criações de patos, codornas, galinhas, cultivos agrícolas e simples sistemas comerciais de rãs, peixes e outros animais.



Atualmente, a população vêm acompanhando um lento ritmo de desenvolvimento. Mas o distrito ainda luta pela construção de uma ponte que ligue Três Irmãos à Portela, o que, segundo a própria população, seria a solução para um desenvolvimento rápido.

Perímetro Urbano de Três Irmãos (Cambuci) e Portela (Itaocara) - Foto: IBGE

Mas soluções alternativas estão sempre criadas, como tornar Três Irmãos e Portela uma só cidade autónoma; desenvolver Três Irmãos para seus habitantes não precisem sair dali; e a formação de um sistema hidrográfico mais eficaz. A construção de represas também é um outro tema para discursos. Enquanto ambientalistas e a população pede o fim do plano, pessoas com interesses economicos concordam com a construção, que faz parte do PAC.



Nos anos 1880, era esperado que a ligação fosse completada entre ela e a estação de Portela, ponto final da linha do Cantagalo, com a construção de uma ponte sobre o Paraíba do Sul; por algum motivo, tal nunca se deu. Um serviço de canoas, funcionando até o fim dos anos 1940, conectava Portela a Três Irmãos 

Interventor Federal Aurelino Leal chega a Três Irmãos pela balsa vindo de Portela, ao fundo, do outro lado do rio, em 1923: Foto: Reprodução da internet

Em 1944, a região onde ficava Três Irmãos foi desmembrada de Itaocara e passada para o município de Cambuci. Isto pode ter sido uma das causas da desativação da balsa, aliado ao fato de que a ponte rodoviária foi concluída em 1936.



Ainda passam raros trens cargueiros por Três Irmãos, mas os trens de passageiros deixaram de passar por ali desde o início da década de 1980. A estação fica na margem do rio Paraíba do Sul, em frente à estação de Portela, do outro lado do rio e estação terminal da linha do Cantagalo.

A estação de Três Irmãos encontra-se conservada e serve de dormitório para as equipes da Ferrovia Centro-Atlântica. A linha que liga Recreio (MG) a Campos(RJ) está em péssimas condições de conservação, com dormentes podres e mesmo trilhos com fixação precária, oferecendo risco aos ferroviários e moradores. O trecho é utilizado para transporte de material da própria FCA.

Trem de passageiros Campos-Recreio parado em Cambuci, em 1982.
Eles ainda existiam, mas estavam muito próximos do fim - Foto Hugo Caramuru


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