Sebastião de Lacerda é um distrito de Vassouras, tendo como singularidade ser confrontante com a localidade de Comércio, que pertence ao município de Rio das Flores.
A divisão entre estes diminutos centros urbanos é feita pelo leito do Rio Paraíba do Sul, principal referência da paisagem local, pontuada por morros meia laranja cobertos por uma rala vegetação, típica de área de pastagem.
Quem patrocinou a construção desta importante via foi a Real Junta de Commércio, Agricultura, Fábrica e Navegação do Estado do Brasil e Domínios Ultramarinos, de onde originou seu nome primitivo. Sua formação urbana deve-se aos serviços de balsas que faziam a travessia do Rio Paraíba do Sul e a edificação do posto de fiscalização das mercadorias que seguiam pela estrada.
No ano de 1931 a localidade mudou de nome, passando a se chamar Sebastião de Lacerda, homenagem ao político (avô de Carlos Lacerda, que foi governador do estado da Guanabara) e à sua família, que até hoje mantém vínculos com o lugar. Tempos depois o país optou pelo transporte rodoviário em detrimento as ferrovias, o que representou um duro golpe para a localidade.
O último trem de passageiros trafegou por Sebastião de Lacerda no ano de 1976, acabando de vez com o costumeiro movimento de pessoas nas graníticas plataformas de suas estações. Em meados da década de 1990 o governo privatizou a malha ferroviária brasileira, a região sudeste ficou para um consórcio denominado MRS. Em setembro de 1996 as composições de carga começaram a trafegar, situação que se mantém até os dias de hoje.
A via mais utilizada para se chegar a Sebastião de Lacerda é a RJ-115, que passa na localidade vizinha de Comércio, de onde segue em duas direções: uma vai margeando o Rio Paraíba do Sul por cerca de dezessete quilômetros, conjugando trechos trafegáveis com outros em condições precárias, até o distrito valenciano de Barão de Juparanã, situado próximo à cidade de Vassouras, e a outra, apresentando um trecho em melhores condições, estende-se por dezessete quilômetros, até a localidade de Taboas, distrito de Rio das Flores situado às margens da rodovia RJ-145.
Composição da MRS atravessando o distrito de Sebastião de Lacerda - Foto: Reprodução da internet |
A divisão entre estes diminutos centros urbanos é feita pelo leito do Rio Paraíba do Sul, principal referência da paisagem local, pontuada por morros meia laranja cobertos por uma rala vegetação, típica de área de pastagem.
A vila de Sebastião de Lacerda surgiu nos primeiros anos do século XIX com o nome de Commércio, referência a Estrada do Commercio, aberta em 1819 para escoar a produção que descia pelas tropas de mulas do Vale do Paraíba fluminense até a Vila de Iguaçu, na Baixada Fluminense, seguindo adiante para a Corte no Rio de Janeiro.
A localidade de Sebastião de Lacerda, do outro lado do rio. - Foto: Reprodução da internet |
Quem patrocinou a construção desta importante via foi a Real Junta de Commércio, Agricultura, Fábrica e Navegação do Estado do Brasil e Domínios Ultramarinos, de onde originou seu nome primitivo. Sua formação urbana deve-se aos serviços de balsas que faziam a travessia do Rio Paraíba do Sul e a edificação do posto de fiscalização das mercadorias que seguiam pela estrada.
Em 1858, a francesa Marie Françoise Barbe de Stocklin e seu marido, o professor Charles Adrien Olivier Grivet, fundaram o afamado Colégio de Meninas, que ficava próximo ao local onde se construiu a estação ferroviária. Madame Grivet, como ficou conhecida, ensinava as filhas dos grandes fazendeiros de Vassouras, Valença e redondezas os ensinos básico e secundário, dando-lhes também uma formação aristocrática, que compreendia aulas de boas maneiras, de bordado, de piano e até de francês.
Dentre as alunas que passaram pelas salas do colégio estava Eufrásia Teixeira Leite, descendente dos nobres de Vassouras, e que se tornou uma das figuras mais destacadas do ciclo cafeeiro da região.
Devido a forte concentração da riqueza advinda dos morros repletos do valioso grão, o Médio Paraíba fluminense foi agraciado com a Estrada de Ferro D. Pedro II. A sustentação econômica desta companhia férrea estava alicerçada na produção dessas fazendas, ocasionado embates históricos pela escolha do trajeto, como o “Movimento de Vassouras”, que representava o desejo dos barões em implantar os trilhos no centro de sua cidade principal.
Mesmo não tendo logrado sucesso nesta empreitada, o trem seguiu pelo território do município vassourense, acompanhando as margens do Rio Paraíba do Sul. Este ramal tinha a finalidade de atingir a província de Minas Gerais, tendo início na atual cidade de Barra do Piraí. No percurso, foi instalada uma série de estações, dentre elas a de Commercio, inaugurada no dia 27 de novembro de 1866.
Em 1877 chegou à localidade o açoreano João Augusto Pereira de Lacerda, adquirindo parte das terras da fazenda São Manoel, ele então a fracionou em três chácaras e por volta de 1878 construiu próximo ao núcleo urbano um prédio estilo chalé. João Pereira casou-se com uma descendente do primeiro sesmeiro de Vassouras, foi pai de Sebastião Eurico Gonçalves de Lacerda (que se tornou influente político, advogado e ministro).
A família vivia humildemente, na propriedade complementando o orçamento doméstico com a venda de mangas, colhidas na chácara, para os passageiros dos trens que paravam na estação de Commércio.
A então vila, que nascera acostumada ao movimento das tropas de cavalos e carruagens, passou por uma grande transformação, tornando-se um dos raros locais beneficiados com a presença de uma estação da principal estrada de ferro do país. Isto fez com que atraísse para seu território, na década de 1880, os trilhos da recém-criada Estrada de Ferro Commercio e Rio das Flores, que atendia a então freguesia de Santa Tereza, atual município de Rio das Flores.
Com a instalação dessa linha, a localidade virou ponto de entroncamento ferroviário. Além da estação, a companhia rio-florense possuía um prédio para fazer a cobrança da travessia da ponte, conhecido como “chalé da barreira”.
O café garantiu prosperidade à localidade até fins do século XIX, quando ocorreu a decadência econômica da região, provocada pela derrocada desta lavoura. Por volta da década de 1910 a Estrada de Ferro Central do Brasil promoveu uma reestruturação da malha ferroviária brasileira, a vila teve seu parque ferroviário totalmente remodelado e ao mesmo tempo em que teve duplicada a linha central, foi suprimido o tronco da ligação férrea com Santa Tereza (atual município de Rio das Flores).
Vagão estacionado nas oficinas ferroviárias de Taboas. Ao fundo, a fachada da estação de madeira, com o nome grafado no frontão. - Foto: Reprodução da internet |
No ano de 1931 a localidade mudou de nome, passando a se chamar Sebastião de Lacerda, homenagem ao político (avô de Carlos Lacerda, que foi governador do estado da Guanabara) e à sua família, que até hoje mantém vínculos com o lugar. Tempos depois o país optou pelo transporte rodoviário em detrimento as ferrovias, o que representou um duro golpe para a localidade.
O último trem de passageiros trafegou por Sebastião de Lacerda no ano de 1976, acabando de vez com o costumeiro movimento de pessoas nas graníticas plataformas de suas estações. Em meados da década de 1990 o governo privatizou a malha ferroviária brasileira, a região sudeste ficou para um consórcio denominado MRS. Em setembro de 1996 as composições de carga começaram a trafegar, situação que se mantém até os dias de hoje.
Atualmente, Sebastião de Lacerda tem em seus remanescentes arquitetônicos um dos principais testemunhos daquele período. Os antigos armazéns transformados em residências abrigam agora um pequeno numero de moradores.
O acesso ao território do município é feito pela BR-393 (conhecida também como Rodovia Lúcio Meira ou Rodovia do Aço). Após uma viagem de dezessete quilômetros, partindo da cidade de Vassouras no sentido ao município de Paraíba do Sul, entra-se num entroncamento à esquerda por uma via de terra que leva à localidade de Aliança e às fazendas Mulungu Vermelho e Santa Rita do Pau Ferro (recentemente convertida num complexo hoteleiro).
Cerca de três quilômetros e meio depois surge a bifurcação indicando, à direita, Aliança e, à esquerda, Sebastião de Lacerda. A partir deste trecho é necessário, ainda, vencer cerca de seis quilômetros por um leito de estrada em péssimas condições.
Ponte do Paraíso, próximo a Barão de Juparanã, com suas vigas metálicas arqueadas em 1865 - Foto: Reprodução da internet |
A via mais utilizada para se chegar a Sebastião de Lacerda é a RJ-115, que passa na localidade vizinha de Comércio, de onde segue em duas direções: uma vai margeando o Rio Paraíba do Sul por cerca de dezessete quilômetros, conjugando trechos trafegáveis com outros em condições precárias, até o distrito valenciano de Barão de Juparanã, situado próximo à cidade de Vassouras, e a outra, apresentando um trecho em melhores condições, estende-se por dezessete quilômetros, até a localidade de Taboas, distrito de Rio das Flores situado às margens da rodovia RJ-145.
Seu núcleo urbano se desenvolve numa faixa de terra longitudinal, entre as encostas dos morros e a margem do Rio Paraíba do Sul. As primeiras construções ficam próximas à cabeceira da ponte.
Foi-se o tempo em que a comunidade e o trem possuíam uma saudável convivência. Se, no passado, escutar ao longe seu apito se transformava numa alegre corrida até as estações, hoje este hábito assumiu conotação oposta. Potentes locomotivas puxando enormes composições de carga quebram o clima bucólico do local. A maioria segue vazia no sentido de Minas Gerais.
Além da desproporcionalidade do tamanho dessas máquinas em relação à formosa vila, a velocidade e o barulho assustam, provavelmente em razão de ignorarem as normas necessárias para minimizar tais impactos quando trafegam em perímetros urbanos. Ao se colocar a mão no piso das plataformas, é possível sentir que parte da energia emanada pelos trilhos é transmitida em forma de trepidações aos prédios das estações e ao seu entorno.
Apesar da ferrovia não passar pela cidade sede de Vassouras, o município conta com um expressivo número de estações da linha central. Uma delas está localizada em Sebastião de Lacerda, que se tornou uma das mais prósperas vilas ferroviárias do Vale do Paraíba fluminense. Sua conformação urbana se estrutura em torno da linha férrea, assistida por três ruas em piso de terra e por prédios de pavimentação térrea, feitos de tijolo maciço e telhas francesas.
Este conjunto conjuga exemplares conservados e outros num estado geral em processo de arruinamento, degradados ou vitimados por intervenções inadequadas, a falta de tratamento urbanístico acaba por prejudicar sua histórica e harmoniosa ambiência urbana. O acervo arquitetônico mais expressivo é composto por um conjunto de linhas ecléticas, situado cronologicamente entre fins do século XIX e as primeiras décadas do século XX, destacando-se os prédios das estações ferroviárias, que formam o coração da vila
Até chegar a atual conformação, com apenas uma linha férrea, a vila de Sebastião de Lacerda passou por diversas mudanças que moldaram seu quadro urbano e arquitetônico. Logo no alvorecer das ferrovias no Brasil a localidade ganhou uma estação da Estrada de Ferro D. Pedro II. A década de 1880 marcou a chegada dos trilhos da Estrada de Ferro Commercio e Rio das Flores até o seu perímetro urbano, acolhendo assim, uma estação da linha férrea regional do município vizinho.
A nova estação ficou implantada em paralelo com a linha principal, recebendo à frente, um prolongamento auxiliar da bitola larga e, aos fundos, na confrontação com as margens do Rio Paraíba do Sul a de bitola estreita da linha a qual pertencia.
No início do século XX, a Estrada de Ferro Central do Brasil promoveu profundas modificações na estrutura ferroviária brasileira. O ano de 1910 marcou o começo da encampação de diversas linhas férreas regionais, sendo também duplicada a linha principal entre os estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. Naquela década, foram retirados os trilhos da Estrada de Ferro Rio das Flores na localidade.