O litoral sul do estado desempenhou importante papel portuário no período colonial. Porém, na medida em que a estrutura de transportes não acompanhou o processo econômico, a região permaneceu no isolamento.
Os contatos com Angra dos Reis eram feitos por péssimas rodovias, e, com Parati dependiam de irregular navegação marítima. É importante mencionar que as escarpas da serra do Mar se aproximam muito do litoral nessa área, deixando pouco espaço para a circulação e, principalmente, para o povoamento.
As escarpas das Serras da Bocaina, Mangaratiba e Mazomba consistem num imponente alinhamento serrano que se notabiliza como uma muralha montanhosa, alçada a mais de 1.000m de altitude. Esse escarpamento mergulha diretamente sobre as águas das baías da Ilha Grande e de Sepetiba por meio de costões rochosos, produzindo uma paisagem pontilhada de ilhas, cabos, sacos e enseadas que configuram o litoral sul fluminense. Esse escarpamento prolonga-se ininterruptamente desde a serra de Parati até a escarpa da serra do Mazomba, alcançando a baixada de Sepetiba.
Rios de planalto descem vertiginosamente a escarpa em direção aos fundos de enseadas e embaíamentos da baía da Ilha Grande, tais como os rios do Funil, Mambucaba, Bracuí-Paca Grande e Ariró. Rios menores drenam exclusivamente a escarpa da Serra da Bocaina, tais como os rios Parati- Mirim, Perequê-Açu, da Barra Grande e do Frade, dentre outros. Essa unidade é caracterizada por uma majestosa barreira orográfica, sendo que sua linha de cumeada sustenta altitudes entre 1.400 e 1.700m, a oeste do rio Mambucaba, e em torno de 1.000 a 1.200m, entre o rio Mambucaba e o colo da estrada Angra dos Reis-Lídice. Destaca-se, nesse trecho, o Pico do Frade (1.589m).
As escarpas das serras de Mangaratiba (ou das Lajes) e do Mazomba consistem em um prolongamento a leste da escarpa da Serra da Bocaina. Formam um relevo de transição entre a depressão do médio vale do rio Paraíba do Sul, onde se assentam os núcleos urbanos de Lídice e Rio Claro e o reservatório de Ribeirão das Lajes, e as exíguas baixadas, situadas em reentrâncias das baías da Ilha Grande e de Sepetiba.
As principais drenagens que drenam essas escarpas são as dos rios Japuíba, Ingaíba e do Saco. O rio Mazomba, por sua vez, não desemboca diretamente no litoral, atravessando um grande trecho da baixada de Sepetiba. A linha de cumeada do topo do escarpamento sustenta altitudes entre 1.200 e 1.400m, na serra de Mangaratiba, atingindo cotas superiores a 1.500m (Morro das Lajes – 1.692m), e em torno de 900 a 1.200m, entre o colo do rio do Saco e a porção terminal da serra do Mazomba.
Importantes espigões destacam-se do escarpamento principal e prolongam-se em direção à linha de costa ao longo de todo esse alinhamento montanhoso, tais como as serras de Parati, da Pedra Branca, do Frade, de Capivari e de Muriqui. Tais feições conferem um padrão de escarpas festonadas e digitadas ao conjunto montanhoso. Vales estruturais de direção W-E (rios Pequeno, da Barra Grande e Mazomba) e SW-NE (Rio do Saco) demonstram um relativo controle estrutural no processo de dissecação diferencial da escarpa, que ainda apresenta um aspecto monolítico, apesar da ocorrência de colos bastante rebaixados em trechos específicos.
Acima da cota de 100m, todo o escarpamento a oeste do rio Mambucaba pertence ao Parque Nacional da Serra da Bocaina. Todavia, as baixas vertentes desse escarpamento estão fortemente impactadas devido à abertura da rodovia Rio-Santos (BR-101) na década de 70.
A implantação da rodovia acelerou o crescimento urbano das antigas vilas de pescadores e a proliferação de condomínios de alta renda, através do desenvolvimento de atividades turísticas e do setor industrial calcado na indústria naval e nas usinas nucleares, em detrimento das atividades portuária e pesqueira.
Dentre as mais importantes planícies do litoral sul fluminense, destacam-se:
- Na baía de Parati
As baixadas do rio Perequê-Açu, Pequeno e da Barra Grande, onde se situam os núcleos urbanos de Parati e São Roque;
A baixada do rio Mambucaba, onde se localiza a vila operária de Mambucaba;
- Na baía da Ribeira
As baixadas dos rios Bracuí, Ariró e Japuíba, onde se situam o núcleo urbano de Frade e a periferia de Angra dos Reis;
- Na baía de Mangaratiba
As baixadas dos rios Ingaíba e do Saco.
Registram-se também baixadas menores, onde se situam os núcleos urbanos de Monsuaba, Jacuecanga e Muriqui, esse último na Baía de Sepetiba.
Com a implantação da rodovia Rio-Santos, verificou-se um acelerado incremento da expansão da malha urbana sobre essas baixadas, e de empreendimentos imobilários com fins turísticos, descaracterizando a vegetação original dessas planícies e aterrando áreas de mangue. A ocupação da planície de Japuíba, na periferia de Angra dos Reis, é um exemplo bastante relevante dessa situação, configurando- se como uma área de risco de enchentes e degradação ambiental.
A construção da Usina Nuclear Álvaro Alberto, em Mambucaba, e da Nuclebras Equipamentos Pesados (Nuclep), em Itaguaí, determinou a necessidade de melhoria no acesso à região.
Formação da Costa Verde Fluminense
A Lei Complementar nº 105, de 4/7/2002, retirou os municípios de Itaguaí e Mangaratiba da região metropolitana do Rio de Janeiro e juntou-os aos de Angra dos Reis e Parati. Para a Turisrio, essa nova região corresponde à Costa Verde, que abrange assim os quatro municípios.
Foram criadas, então, duas microrregiões:
• a da baía de Sepetiba: Itaguaí e Mangaratiba;
• a da baía da Ilha Grande: Angra dos Reis e Parati.
A região apresenta clima tropical úmido. A temperatura média anual é de 27ºC, e ainda podemos encontrar alguns trechos da Mata Atlântica, rica em espécies da fauna e da flora, apesar da devastação decorrente do turismo e da atividade industrial. Devido ao relevo irregular e aos rios que cortam a região, são comuns as cachoeiras e cascatas. Parati abriga o Parque Nacional da Serra da Bocaina e uma baía cheia de ilhas.
A atual área do município de Parati era reduto dos índios guaianás, cujos domínios se estendiam desde Cananéia (SP) até Angra dos Reis (RJ). O núcleo que deu origem à cidade de Parati foi fundado por portugueses da capitania de São Vicente (SP), no início do século XVI.
Com a descoberta do ouro em Minas Gerais, a antiga trilha dos guaianás, que transpunha a serra do Facão atingindo o Vale do Paraíba tornou-se passagem obrigatória para a região das minas.
Esse foi o caminho percorrido pelos portugueses e índios guaianás para combater os tamoios que habitavam a zona de mineração. No final do século XVI, Parati já se destacava pela produção de açúcar, e até hoje a cidade preserva inúmeros engenhos.
Em meados do século XVI, a região de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba recebeu especial atenção da metrópole, tendo em vista a colonização da área e a garantia de sua posse para a Coroa Portuguesa. Essas regiões desempenhavam papel estratégico entre o caminho do mar e a penetração para o interior. A principal atividade econômica da época era o cultivo da cana-de-açúcar.
Foi com o surgimento das notícias sobre o ouro, em 1695, que os primeiros aventureiros subiram a trilha dos guaianazes com destino ao sertão. No final do século XVII, foi criado o caminho para as Minas Gerais, a que se tinha acesso pela serra do Quebra Cangalha, pelo caminho da Freguesia do Facão (atual Cunha), atingindo-se o rio Paraíba do Sul.
Nesse ponto, dava-se o encontro com a rota dos bandeirantes paulistas, na altura de Guaratinguetá, e na Garganta do Embaú. Vencida a serra, o caminho seguia até Baependi, Carrancas, São João Del Rey e São José Del Rei (hoje, Tiradentes), até alcançar os arraiais de Antônio Dias e de Vila Rica (atual Ouro Preto). Parte desse caminho ainda existe, como, por exemplo, o trecho que liga Paraty a Cunha e Guaratinguetá, a atual RJ-165 / SP-171.
A partir da descoberta do ouro na região de Minas Gerais, no final do século XVII, essa região ganhou enorme importância, pois se tornou o caminho oficial para o escoamento do ouro das minas, que era levado para Parati, depois para o Rio e daí para Portugal.
Em 1702, o governador do Rio de Janeiro baixou o Regimento das Minas, determinando que apenas o gado podia ser levado até Minas Gerais pelo caminho do sertão (pela Bahia), e que todas as mercadorias – inclusive o ouro – teriam de entrar pelo Rio de Janeiro, tomando o rumo de Parati.
Essa determinação aumentou intensamente o trânsito pelo Caminho do Ouro, fazendo com que o porto de Parati se transformasse em um dos mais importantes da Colônia. Em 1703, uma carta régia ordenou que se instalasse, em Parati, Casa do Registro do Ouro, para controlar o fluxo do ouro das minas para o Rio de Janeiro e o de pessoas e mercadorias no sentido oposto. Essa instalação atestou a importância que as autoridades portuguesas atribuíram ao porto naquela época.
Por volta de 1710, Portugal proibiu o uso da estrada de Parati para o transporte do ouro das minas, pois foi instalada a Casa de Registro da Paraíba no Caminho Novo. Comerciantes pediram, ao governador do Rio de Janeiro, licença para realizar a viagem das minas pelo Caminho de Parati, comprometendo-se a voltar pelo Caminho Novo, alegando que este estava em mau estado de conservação.
O Caminho para São Paulo, ou Estrada Real de Santa Cruz, ligando o Rio de Janeiro a São Paulo de Piratininga. Essa via foi aberta em 1725, com o objetivo de transportar o ouro vindo das Minas de Cuiabá, no Mato Grosso, para os portos do Rio de Janeiro. O caminho passava por Santa Cruz, Itaguaí e São João Marcos; a seguir, prosseguia, entrando na Província de São Paulo por Bananal e, posteriormente, Areias, e conectando-se com o antigo caminho velho em Cachoeira Paulista.
A Vila de Itaguaí, passou a ser uma rota de viagem padrão para os viajantes para São Paulo e para as Minas Gerais, pelo "Caminho do Ouro", devido ao terreno pouco acidentado e transitável durante todo o ano, com poucos alagadiços e com bastante água para os animais.
Em 1844 foi fundado o distrito de Seropédica cujo nome deriva da sericultura - criação do bicho da seda. Foi o início da primeira Fábrica de Tecidos de Seda do Brasil.
No Caminho Velho, o primitivo porto de Paraty foi substituído pelos portos de Jurumirim, Ariró, Itanema, Frade, Mambucaba, Bracuí e Sítio Forte, todos na baía de Angra dos Reis. Esses portos é que recebiam quase toda a produção do Sul e Sudoeste fluminenses, do chamado Norte Paulista, da zona meridional de Minas e ainda de Goiás.
Aspecto de um túnel cortado na rocha viva (gnaisse) na estrada para Angra dos Reis em 1958. Foto: Reprodução da internet |
Havia ainda a Estrada do Picu, uma derivação da Estrada de São Paulo, que, saindo de Itaguaí, subia a serra na direção de Piraí, passando depois por Barra Mansa, Resende, até encontrar a serra do Picu na Província de Minas. Essa estrada (do Picu) foi construída entre 1843 e 1846. Havia também a Estrada Resende-Ariró, construída na década de 1830.
Até 1864, a antiga povoação de Santos Reis Magos, atual cidade de Angra dos Reis, foi, depois do Rio de Janeiro, o porto mais movimentado do Sul do Brasil. Havia ainda os portos de Itaguaí e Mangaratiba. Através desses portos também se fazia o desembarque de africanos no litoral sul do Rio de Janeiro.
Depois da Independência do Brasil, Itaguaí desenvolveu a sua agricultura sendo em tempos diversos o maior produtor de milho, quiabo, goiaba, laranja e banana do Brasil. Recebeu inicialmente o uso de trabalho escravo de negros, que foi gradualmente substituído por mão de obra estrangeira, mais especificamente de japoneses, em 1838, e em menor número de alemães. Ainda hoje é uma das maiores colônias japonesas do estado do Rio de Janeiro.
Dois anos depois da promulgação da Lei de 1850, que proibiu o tráfico de escravos, um importante acontecimento, conhecido na época como “Caso de Bracuhy”, envolveu os nomes de ricos fazendeiros com a atividade recém-proibida, como os de Manoel de Aguiar Vallim, o maior produtor de café na região de Bananal, e do Comendador Joaquim José de Souza Breves, o chamado Rei do Café. Todos foram indiciados, mas... inocentados.
Entre 1764 e 1818, a freguesia de Mangaratiba pertencia ao município de Angra dos Reis, passando a fazer parte do município de Itaguaí até que, por meio do Decreto de 11 de novembro de 1831, a antiga aldeia foi elevada ao status de vila, quando recebeu a denominação de Nossa Senhora da Guia de Mangaratiba.
A partir daí, a atividade portuária representou o esplendor econômico local, na qual afluíam mercadorias vindas do interior paulista e de Minas Gerais, além de outras regiões do Brasil e do mundo. O município também se beneficiou da expansão cafeeira como porto de escoamento da produção do Vale do Paraíba, que chegava pelas estradas de tropeiros. Este comércio ganhou grande importância e, devido ao rápido aumento do volume transportado, houve necessidade dessas estradas serem alargadas.
Este foi o caso da Estrada Imperial, inaugurada por Dom Pedro II, que, ainda assim, não resolveu por completo as dificuldades de acesso e o aumento da demanda por vias de escoamento da produção cafeeira. Em linhas gerais, a inauguração da Estrada de Ferro D. Pedro II — ligando o Vale do Paraíba ao Rio de Janeiro —, a proibição do tráfico negreiro e a abolição da escravatura, fizeram com que, progressivamente, houvesse redução das atividades comerciais de Mangaratiba, resultando em um cenário de total estagnação e abandono, a ponto de o município ser extinto em maio de 1892, mas restabelecido em dezembro do mesmo ano.
A estagnação econômica foi total, sendo Mangaratiba um exemplo de cidade nascida de uma rota comercial que não tinha bases produtivas próprias que permitissem uma autonomia. A estagnação da economia e da vida em Mangaratiba persistiu até 1914, quando foi concluído o ramal da Estrada de Ferro Central do Brasil, que integrou o município no sistema ferroviário do Rio de Janeiro.
Posteriormente ocorreu um ligeiro progresso econômico propiciado pela exportação de bananas, lenha e carvão, e pela construção de residências de veraneio ao longo da linha férrea ou concentradas em alguns núcleos urbanos. Na década de 1940 ocorreram os grandes loteamentos na orla marítima como Muriqui, Praia do Saco, Itacuruçá e outros, reforçando o papel turístico e de veraneio do município, que se consolida com a abertura da BR-101, na década de 1970.
É nesses portos que se iniciam as novas estradas:
Estrada de Mambucaba, que margeava o rio do mesmo nome, seguindo até a Serra Geral e a do Frade, onde se bifurcava para Silveiras e para São José do Barreiro e Resende;
Estrada de São João Marcos, que ligava o porto de Mangaratiba à cidade do mesmo nome e subia em direção de Rio Claro até atingir Barra Mansa, onde se dividia para Resende e Quatis;
Estrada do Caramujo, que ligava os portos de Angra dos Reis e Jurumirim a Rio Claro.
Em meados do século XX, foi inaugurada a primeira a Estrada de Rodagem ligando o Rio de Janeiro à Mangaratiba, a RJ-14. Essa estrada ampliou ainda mais o desenvolvimento turístico da região, como também facilitou o escoamento do pescado, da produção de bananas e de outros produtos agrícolas, valorizando ainda mais as terras dos pequenos balneários e sítios da zona rural.
A partir desse evento, o turismo passou a contribuir fortemente para a receita municipal, juntamente com a produção de bananas e com o pescado, com destaque, nesse período, para Itacuruçá por ser a principal área produtora de peixe e turística de Mangaratiba.
Em 1938 começou a ser construída a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro no então distrito de Seropédica em Itaguaí, utilizando um dos prédios da antiga Fábrica de Seda. Até a década de 1950, a má admistração pública gerou diversos problemas sociais, resultando em surtos recorrentes de malária, cólera e outras doenças erradicadas das cidades vizinhas. Tal fato trouxe uma má-fama à cidade, que ganhou o apelido de "Município Abandonado".
São por essas estradas que, até a construção dos trilhos da Estrada de Ferro D. Pedro II, se escoa toda a produção de café de Resende, Barra Mansa, São João Marcos, Bananal e São José do Barreiro, região pioneira na produção dessa lavoura no Vale.
Com a aprovação do Decreto 58.077, de 24 de março de 1966, a cidade de Parati foi declarada Monumento Histórico Nacional e, com a abertura da Rodovia Rio–Santos, a cidade transformou-se em pólo turístico de fama internacional.
Canhão histórico usado para combater piratas em Paraty - Foto: Anthony Paz |
A partir da década de 1960 Itaguaí começou a se industrializar, com a construção de fábricas como a Ingá Mercantil (zinco), a Nuclep (material termonuclear) e de outras empresas no distrito industrial de Santa Cruz. Em 1960 o distrito de Paracambi foi emancipado da cidade e em 1995 o distrito de Seropédica também se separou. Muitas partes do município também foram perdidos para Mangaratiba e para a cidade do Rio de Janeiro.
A partir da década de 1970, a região recebeu investimentos do Governo Federal para a construção da BR–101 em áreas de encostas desgastadas e descobertas de vegetação, o que provocou elevados custos sociais ao meio ambiente, embora tenha facilitado o acesso à chamada Costa Verde.
A construção da Rio–Santos se seguiu de uma imediata ocupação da região pelos grandes empreendimentos imobiliários. A especulação viu na Costa Sul do estado uma boa oportunidade de explorar o turismo de alto nível.
O Porto de Sepetiba (atual Porto de Itaguaí), inaugurado em sete de maio de 1982, e o evento do “Arco Metropolitano”, construído para dar melhor acesso ao porto, transformou ainda mais a vida do município de Mangaratiba, aumentando a população flutuante de finais de semana, de férias e de feriados prolongados, criando grandes engarrafamentos nas estradas e localidades litorâneas na busca por um turismo praiano.
Itaguaí caracteriza-se como um município proletário, em que coexistem diversos problemas como dificuldades de transporte e infraestrutura, abastecimento de água, falta de saneamento adequado em certos pontos e graves problemas ambientais.
O advento das ferrovias
No decorrer do século XIX, o crescimento econômico do país, em grande parte devido à exportação do café produzido principalmente no Vale do Paraíba, contribuiu para que forças políticas, representadas por fazendeiros da região, convencessem o governo da necessidade de implantação de uma rede ferroviária na Província do Rio de Janeiro.
Em resposta à pressão da Inglaterra, que também cobrava ao governo brasileiro o fim ao tráfico transatlântico de africanos, foi editada em 1850 a Lei Eusébio de Queiroz. O capital mercantil, que antes privilegiava esse comércio milionário, a partir desse momento foi direcionado para outras atividades, destacando-se o surgimento de bancos comerciais, que permitiram o financiamento e aquisição de maquinaria para beneficiamento de café e a construção de ferrovias para o escoamento da produção.
É importante destacar que, até a chegada das ferrovias no Brasil, o transporte terrestre de mercadorias se processava no lombo dos burros em estradas carroçáveis. Naquela época, os portos fluminenses de Parati e Angra dos Reis exportavam cerca de 100 mil sacas de café, provenientes do Vale do Paraíba. Em São Paulo, anualmente, chegavam ao porto de Santos cerca de 200 mil bestas carregadas com café e outros produtos agrícolas.
Locomotiva e barco no porto de Angra dos Reis, para onde sai um ramal do pátio da estação em 1973 Foto Daniel Gentil |
Irineu Evangelista de Souza, futuro Visconde de Mauá, que se tornou um personagem importante de nossa história, foi um dos que solicitou o privilégio de construir uma via férrea, que viria a ser a primeira da América Latina. Inaugurou-se, assim, em 30 de abril de 1854, a Cia. Estrada de Ferro Mauá, com 14,5km de extensão, apenas 20 meses após o início das obras. Essa estrada ligava a localidade de Pacobaíba, à margem da Baía de Guanabara, hoje Mauá, à raiz da serra do Mar, no caminho para Petrópolis.
A linha-tronco da Rede Mineira de Viação foi construída originalmente pela E. F. Oeste de Minas a partir da estação de Ribeirão Vermelho, onde a linha chegou em 1888. A partir daí, a Estrada de Ferro Oeste de Minas iniciou seu projeto de ligar o sul de Goiás a Angra dos Reis, passando por Barra Mansa: construída em trechos, somente em 1928 a EFOM chegou a Angra dos Reis, na ponta sul, e no início dos anos 1940 a Goiandira, em Goiás, na ponta norte, e já agora como Rede Mineira de Viação.
O tráfego de passageiros até Angra dos Reis, descendo e subindo a serra, foi extinto entre 1979 e 1980, mas alguns trens turísticos foram implantados depois disso. Enquanto a RFFSA era a dona da linha, até 1996, eles funcionaram. Com a entrada das concessionárias, eles foram suprimidos.
O trem subia a partir da saída do pátio de Angra dos Reis até a estação do Alto da Serra. Daí descia até Lídice, onde esses trens geralmente paravam por um tempo e voltavam. Em dezembro de 2002, as fortes chuvas destruíram boa parte da cidade de Angra dos Reis e danificaram a linha, que ficou interrompida. Os cargueiros tiveram seu tráfego parado até o ano de 2005, quando a linha reparada voltou a funcionar.
A Angra dos Reis deveria ter chegado também, nos anos 1920, a linha do ramal de Mangaratiba, vindo do Rio de Janeiro. O ramal acabou parando em Mangaratiba. O ramal de Angra, posteriormente chamado de ramal de Mangaratiba, foi inaugurado em 1878, partindo da estação de Sapopemba (Deodoro) até o distante subúrbio de Santa Cruz.
Somente foi prolongado em 1911 até Itaguaí, e em 1914 chegou a Mangaratiba, de onde deveria ser prolongado até alcançar Angra dos Reis, onde, em 1928, a E. F. Oeste de Minas havia atingido com sua linha vinda de Barra Mansa.
A estação de Mangaratiba era de madeira. Automotriz ED12 na plataforma em 1976 - Foto João Bosco Setti |
Tal nunca aconteceu, e o ramal, com trechos belíssimos ao longo da praia, muito próximo ao mar, transportou passageiros em toda a sua extensão até por volta de 1982, quando foi desativado. Antes disso, em 1973, uma variante construída pela RFFSA e que partia de um ponto próximo à estação de Japeri, na Linha do Centro, permitia que trens com minério alcançassem o porto de Guaíba, próximo a Mangaratiba, encontrando o velho ramal na altura da parada Brisamar.
A variante, entretanto, deixava de coincidir com o ramal na altura da ponta de Santo Antonio, onde desviava para o porto; com isso, em 30 de junho de 1983, o trecho original entre esse local e Mangaratiba foi erradicado e os trens passaram a circular somente entre Deodoro e Santa Cruz, de onde voltavam.
Hoje, esse trecho ainda é usado pelos trens de subúrbio, o trecho entre Santa Cruz e Brisamar está abandonado e o restante, Brisamar-porto, é utilizado pelos trens de minério apenas.
A Rodovia Rio-Santos
O traçado da estrada era para ser um segredo de Estado. Assim, quando a Rodovia Rio-Santos, a BR-101, cortasse os 500 quilômetros da costa entre essas duas cidades litorâneas, o habitante local estaria protegido em sua terra, preservado da especulação imobiliária decorrente da valorização que a região sofreria em consequência da estrada. Porém, não foi isto que aconteceu.
A frente do governo do, então, Estado da Guanabara, estava o senhor Carlos Lacerda que, devido à sua posição política, teve prévio conhecimento do traçado da rodovia e das faixas de terra por esta rasgadas.
Quando o trecho da rodovia BR-101 entre Santa Cruz, no Rio de Janeiro, e Ubatuba, no litoral Paulista, foi inaugurado em meados da década de 70, grande parte dos títulos de terras deste litoral estava em poder de empresas estrangeiras, com o nome de Carlos Lacerda funcionando como testa de ferro.
Obras na pista, trecho inicial em construção da rodovia Rio-Santos, na região de Bertioga, em 1975 - Foto: Arquivo/AE |
Inicia-se então um novo drama na vida dos habitantes desta região, o caboclo do litoral conhecido pelo nome de "caiçara", bem como nas comunidades indígenas Guarani que se espalhavam pela Costa Brasileira. A ameaça de expulsão de suas posses centenárias concretizou-se em várias ocasiões, ao mesmo tempo em que começavam a surgir favelas nas periferias das cidades da região.
Sem terra onde plantar sua pequena roça de consumo e sem seu mar, de onde tirava o "peixe nosso de cada dia", o caiçara, expulso da posse, tornou-se mais um segmento marginalizado em nossa sociedade.
Em 1973 a empresa francesa Scet Internacional elaborou e apresentou o Projeto Turis à Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR). O projeto pretendia equiacionar o problema turístico do litoral Rio-Santos, propondo um plano diretor para a região. Esse projeto propugnava "um planejamento normativoglobal, com estudos e normas de ocupaçõ que ingressassem as construções aos ambientes e às destinações turísticas, visando à maximização de rentabilidadede toda a região aliada a uma implantação adequada".
Os redatores do projeto - preocupados com a preservação ambiental como fator de desenvolvimento turístico - tinham certeza de que "a construção da rodovia teria consequências drásticas na região". Reconheciam, também, que a implantação era meta prioritária no governo federal, então em plena época de "Brasil Grande".
Já em 1968, haviam sido iniciados os estudos de viabilidade técnico-econômica para a construção de uma estrada entre as cidades doRio de Janeiro e Santos. O trecho Rio-Santos faz parte da BR-101, um eixo rodoviário cujos extremos situam-se em Osório no Rio Grande do Sul e em Fortaleza no Ceará, cruzando o país de norte a sul, paralelo e próximo ao litoral.
Conforme o texto do Projeto Turis, a estrada poderia ser considerada um importante equipamento turístico, uma vez que dava vazão a um grande intercâmbio provocado pela busca de praias e da natureza por parte das populações das grandes cidades do macroeixo Rio/São Paulo.
O texto do projeto reconhecia que o litoral Rio-Santos configura-se como uma estreita fita serpenteando pelos contrafortes da Serra do Mar. "Em nenhum outro ponto do litoral brasileiro a Serra do Mar se aproxima tanto do Oceâno Atlântico quanto nesta parte entre o Rio e Santos". Numa paisagem extremamente variada com uma costa recortada, foram disgnosticadas, ao longo desta região litorânea, cerca de 500 ilhas parcéis e lages.
Apresar do alerta e das propostas do Ptrojeto Turis na preservação ambiental desta região comofator de desenvolvimento turístico (a matéria-prima da indústria turística é a natureza), o traçado desta estrada aterrou cerca de 70 praias deste belo litoral.
Ainda em 1973, o paisagista Burle Max encaminhou ao Conselho Federal de Cultura um comovido relatório denunciando as agressões que estavam sendo praticadas contra o meio ambiente na região. "No trecho entre Angra dos Reis e Paraty, a multilação e a violação à natureza atinge proporções indescrtíveis: os cortes são feitos nas montanhas com brutalidade nunca vista, com mais de 100 metros de altura e essa terra é jogada das enconstas aterrando e soterrando as florestas".
Ainda em 1973, o paisagista Burle Max encaminhou ao Conselho Federal de Cultura um comovido relatório denunciando as agressões que estavam sendo praticadas contra o meio ambiente na região. "No trecho entre Angra dos Reis e Paraty, a multilação e a violação à natureza atinge proporções indescrtíveis: os cortes são feitos nas montanhas com brutalidade nunca vista, com mais de 100 metros de altura e essa terra é jogada das enconstas aterrando e soterrando as florestas".
Quando o trecho da estrada até Ubatua foi inaugurado, o engenheiro agrônomo Nelson Cembranelli Schimidt, então na base do Instituto Agronômico de Campinas, no Vale do Paraíba, demonstrou que o leito da rodovia funcionava com um dique represando as águas oriundas das nascentes da Serra do Mar. A água ali represada, que fez apodrecer a vegetação nativa, poderpa conforme o agrônomo, forçar o rompimento da estrada causando danos humanos e materiais incalculáveis.
Foram numerosas as disputas pela posse de terras nesta região costeira, sendo que a mais famosa, a luta dos caiçaras da Praia de Trindade contra o conglomerado multinacional Adela - Agência de Desarollo de la América Latina - composto por 280 multinacionais, durou cerca de dez anos e com inúmeros lances de violência, quando casas de caiçaras foram queimadas e jovens professoras, que insistiram em lecionar na comunidade, foram estupradas pelos jagunços da empresa.
A partir da construção da BR-101, surgiram no litoral sul do estado vários empreendimentos turísticos e condomínios luxuosos que atraem visitantes de vários pontos do país e até mesmo do exterior.
Outro fator de destaque econômico, porém também discutível do ponto de vista ecológico, foi a construção do Tebig (Terminal da Baía da Ilha Grande) pela Petrobras, uma rede de oleodutos que liga o Rio de Janeiro ao Vale do Paraíba, destinada ao escoamento do petróleo da refinaria ao porto.
Trata-se de um terminal portuário privativo da Petrobras. Já a construção naval de grande porte foi importante na região de Angra dos Reis. Os ESTALEIROS Verolme representaram, durante algum tempo, um dos pontos altos da dinâmica econômica da área, juntamente com as usinas nucleares e o terminal da Petrobras.
Com a diminuição das encomendas e a crise da indústria naval brasileira, o setor entrou em decadência, provocando a quase paralisação dessa atividade na região. Como alternativa, o governo procurou incentivar o turismo, que assim como a atividade industrial, vem agredindo seriamente o meio ambiente.
Mesmo sem um projeto maior de preservação ambiental da região que é conhecida pela fragilidade de seus ecossistemas, as cidades da região atraem cada vez mais turistas, com suas belas praias e patrimônio histórico de grande valor, especialmente Parati. A Ilha Grande, antiga sede de um presídio, está se tornando importante área de turismo ecológico.
A ligação hidroviária ainda precisa ser melhorada. Vale lembrar que essa é uma área de proteção ambiental, mas a exploração turística tem proporcionado uma degradação considerável, visível pela contaminação das águas da baía da Ilha Grande.
Vila do Abraão - Ilha Grande - Wagner Gusmão |
É notável que a abertura da BR-101 favoreceu o desenvolvimento industrial e turístico da região, porém, interferiu no equilíbrio socioambiental do litoral sul do estado. Além do desmatamento em várias áreas de Mata Atlântica, ocorre o lançamento de dejetos industriais e esgoto doméstico no mar e nas baías da Ilha Grande e de Sepetiba.
Ilha Grande - da reclusão à hospitalidade
Antes da colonização, era chamada pelos índios Tamoios que a habitavam de Ipaum Guaçu - que significa Ilha Grande em tupi guarani.
Pavimento interno da Penitenciária Agrícola do Distrito Federal, na Vila Dois Rios - Foto: Reprodução da internet |
A Ilha faz parte de um arquipélago de 187 ilhas e é a maior do litoral do estado. São 192 km² de vegetação exuberante típica da Mata Atlântica, resguardados pela Área de Proteção Ambiental dos Tamoios e outras três unidades de conservação: o Parque Estadual Marinho do Aventureiro, o Parque Estadual da Ilha Grande e a Reserva Biológica da Praia do Sul.
A história da Ilha Grande se confunde com a do sistema prisional do estado do Rio de Janeiro. Em Vila Dois Rios, antiga sede de uma fazenda de café no século XIX, localizada na costa sul da região insular, vários foram os modelos de presídios implementados.
O primeiro,“Colônia Correcional dos Dois Rios” foi instaurado através do Decreto 1.794 de 11 de setembro de 1894, com o intuito de receber condenados por vadiagem, prostituição e prática da capoeira. A instituição durou apenas três anos, sendo reinaugurada em 1903.
Em função da situação decadente das instalações da colônia correcional, o governo federal autoriza “a construção de um grande complexo arquitetônico para abrigar a Penitenciária Agrícola do Distrito Federal”, na Vila Dois Rios, no ano de 1938. A intenção era promover a recuperação dos detentos através do trabalho rural.
Em pleno Estado Novo, presos comuns se misturavam com presos políticos. Nomes como Agildo Barata (PCB), Carlos Marighella (PCB), Belmiro Valverde (AIB), Gregório Bezerra (PCB), Lauro Reginaldo da Rocha (PCB), Flores da Cunha (UDN), fazem parte da lista de ilustres que passaram pelo presídio.
Havia um tratamento diferenciado para os presos políticos, que podiam circular pela vila, tomar banho de mar, trabalhar em serviços de carpintaria, pintura, ou mesmo morar junto com as famílias nas casas de Dois Rios.
Na década de 1960, as verbas se tornaram mais escassas. A colônia virou responsabilidade do então Estado da Guanabara. Notícias sobre falta de alimentos e objetos utilitários, assim como registros de tumultos e rebeliões tomavam conta das manchetes dos jornais da capital fluminense. Desde então, já se cogitava a ideia da extinção do presídio, pelo fato deste comprometer a segurança da população dos municípios de Angra dos Reis e Parati.
No entanto, após a instauração do Ato Institucional Número Cinco (AI-5) ampliando as funções repressivas do poder executivo, o governo militar decidiu manter a prisão da Ilha Grande, enviando para lá banqueiros do jogo do bicho e presos políticos.
Com o recrudescimento do regime, as arbitrariedades e práticas de violência aumentavam. Casos de espancamentos, torturas, fugas e morte de presos vinham se intensificando nos anos 1970. Neste período, o local passou a se denominar Instituto Penal Cândido Mendes.
Com o passar do tempo, a degradação do sistema carcerário se estendia. Fugas eram cada vez mais comuns. Entre as mais célebres, a do traficante de drogas José Carlos dos Reis Encina, o Escadinha, que foi resgatado de helicóptero durante o horário de visitação de parentes aos internos, em 31 de dezembro de 1985. Numa ação audaciosa, a aeronave teria pousado no pátio da prisão, recolhendo o criminoso sem qualquer reação policial.
Dessa forma, a proposta de desativação do presídio com a intenção de se privilegiar o turismo da Ilha Grande começava a ser estudada pelo governo fluminense. O presídio continuou em funcionamento até 1994, quando foi desativado pelo governador Leonel Brizola e implodido.
Para quem vai hospedar-se na costa noroeste da Ilha, nas localidades de Saco do Bananal, Enseada de Sítio Forte ou Araçatiba o porto de partida é na cidade de Angra dos Reis (cais de turismo e cais de Santa Luzia, no centro da cidade). Normalmente as pousadas oferecem o traslado para os hóspedes. Outra opção é alugar embarcações particulares;
Para a localidade de Provetá, existe transporte diário por meio traineiras de pesca que partem do cais de Santa Luzia em torno das 15:00hs;
Para Araçatiba, também não é difícil, segue o mesmo esquema; Para Palmas, o embarque é melhor em Mangaratiba. Pode-se alugar um barco para ir direto. Se for para o Abraão, terá que alugar outro barco ou ir caminhando - requerido muita disposição e bom preparo físico;
Para Vila Abraão, partindo da cidade de Angra dos Reis, da Vila de conceição de Jacareí e centro da cidade de Mangaratiba, o transporte é feito diariamente, via barca da empresa CCR BARCAS ou via barcos e lanchas PARTICULARES que partem do cais da Lapa, estação Santa Luzia ou cais de turismo em Angra e do cais no centro de Mangaratiba ou na Vila de Conceição de jacareí (entre Angra e Mangaratiba).