Rocha Leão com sua estrutura urbana próxima à sede municipal, apresenta um clima ameno e com ventos relativamente fortes. Sua sede é cercada pela Reserva Biológica União (Rebio) e pelas serras do Pote, da Careta e do Segredo.
Na segunda metade do século XVIII, as terras da região onde se situava a Sesmaria da União pertenciam em sua maior porção ao Distrito da Cidade de Nossa Senhora da Assunção de Cabo Frio, com pequena parte localizada na Freguesia de Nossa Senhora das Neves e Santa Rita da Aldeia de Macaé.
O sonho de ligar Niterói a Campos por estrada de ferro remonta ao ano de 1857, quando o Barão de São Gonçalo assinou contrato com a presidência da Província do Rio de Janeiro, passando tal ligação ferroviária por Barra de São João e Macaé.
Em agosto de 1887 a Companhia Estrada de Ferro Leopoldina comprou da E. F. Cantagalo o ramal férreo Porto das Caixas – Macaé e as obras das estações da União, Califórnia, Imboassica e Macaé foram sub-empreitadas pelo Dr. João Carlos de Almeida Tibagy assim como os abrigos para o material rodante e locomotivas.
Em relatório do Presidente da Província Fluminense à época era informado que estavam sendo obtidos sem dificuldade os terrenos nos novos municípios atravessados pela empresa. Finalmente, em 04 de novembro de 1888 era inaugurado um melhoramento há muito esperado pelos agricultores e comerciantes locais, a ligação ferroviária entre Rio Bonito e Macaé, com a estação da União passando a denominar-se Rocha Leão, em justa homenagem a Antônio da Rocha Fernandes Leão, advogado, famoso fazendeiro e político, que foi Deputado Geral por Minas Gerais de 1872 a 1875 e Presidente da Província do Rio de Janeiro nos anos de 1886 a 1888, e que esteve acompanhando os trabalhos durante seu governo com muita dedicação, especialmente os das estações do trecho Poço das Antas-Indaiassú-União.
Em 1890 o estado financeiro da Companhia E. F. Leopoldina já era melindroso, tendo em vista as operações arrojadas, especulativas e precipitadas, passando a gerar enorme déficit. Assim, no ano de 1897, era organizada a The Leopoldina Railway Company Limited, com sede em Londres, na qualidade de cessionária da E. F. Leopoldina, liquidada forçosamente.
O pintor friburguense Pedro Eduardo Salusse comprou a Fazenda União em 1898 por apenas 20:250$000, preço que já levava em conta o esgotamento do solo devido a cultura cafeeira, deixando-a sob a administração de seu filho Eduardo Salusse, casado com Hilda Magalhães Salusse. Aqui abre-se parênteses para falar dos dois proprietários: Pedro Eduardo Salusse foi professor de desenho no Colégio Freese em Nova Friburgo, aperfeiçoando seus estudos na Europa, onde permaneceu de 1857 a 1865 estudando pintura em Anvers.
Antônio Fernandes da Costa adquiriu a Fazenda União em 1912, certamente como parte de estratégia relacionada ao seu empreendimento inaugurado em terras macaenses na data de 26 de julho de 1896, a Usina Progresso Macaense, destinada ao beneficiamento de café e arroz. Em 1897, o Cel. Fernandes da Costa era morador de Macaé, possuindo diversos imóveis na rua Treze de Maio, atual Av. Rui Barbosa. Relacionando-se com políticos dos partidos fluminenses dominantes tais como Oliveira Botelho, Galiano das Neves Júnior e Paulino Monneratt, ganha do legislativo municipal friburguense, em 1906, concessões para o serviço de fornecimento de energia elétrica e conclusão do serviço de abastecimento de água em Nova Friburgo, encargos que cumpriu até 1911.
Em 1912, o Almanak Laemmert relaciona em Rocha Leão e Califórnia um administrador de cemitério, dois comissários de polícia, uma professora de escola mista, um agente do correio, além de diversos comerciantes, agricultores e lavradores. Era o progresso das estações ferroviárias que levava o negociante de Rocha Leão, Pedro Vieira Rodrigues, ao mandato de vereador da Câmara Municipal de Barra de São João.
Em meados do século XIX, a Fazenda União possuía extensão de cerca de 743,8 alqueires (3.599,99 hectares), sendo comprados apenas 400 alqueires de suas terras pelo Ten-Cel. Joaquim Luiz Pereira de Souza em 1878, já que a outra parte continuou sobre a posse de Antônio Corrêa de Oliveira Bastos e seus herdeiros até pelo menos a década de 10 do século passado. A partir de 1920, já com o Cel. Costa como proprietário, a extensão da Fazenda União passa a aumentar à medida em que iam sendo incorporadas novas propriedades, pelo menos onze, situadas ao redor das terras originais. Dessa forma vemos que no final do ano de 1938 a Fazenda União tinha praticamente dobrado de tamanho em relação ao anotado na sua compra em 1912.
Em 1934, o município de Barra de São João era dirigido pelo prefeito Carlos Honório Berbet e Rio Dourado apresentava uma das movimentadas estações da Estrada de Ferro Leopoldina, sendo considerada marítima em função da existência de um desvio da linha férrea que chegava até o povoado de Rio das Ostras, com traçado parecido com o da atual rodovia RJ-162.
A Fazenda União passa a ser administrada pelo Engº. Agrônomo João Evangelista da Silva Ramos no ano de 1952, estendendo-se seu período por treze anos, sendo marcado logo no início por dois fatos que impactariam fortemente a vida da fazenda e de Rocha Leão: a dieselisação das locomotivas e o começo da abertura da BR-5, atual BR-101.
O distrito é bastante urbanizado e tem um índice de favelização pequeno. Em 2003 a localidade foi elevada a distrito, subordinado ao município de Rio das Ostras.
O sonho de ligar Niterói a Campos por estrada de ferro remonta ao ano de 1857, quando o Barão de São Gonçalo assinou contrato com a presidência da Província do Rio de Janeiro, passando tal ligação ferroviária por Barra de São João e Macaé.
Em 1872, a Companhia FerroCarril Niteroiense obtinha concessão para construir uma estrada de ferro de Niterói a Campos, que deveria ser composta de duas seções: de Niterói (Santana de Maruy) à Freguesia de Nossa Senhora das Neves, no município de Macaé, e daí até Campos.
Entre 1874 e 1880, foi inaugurado o trecho de Porto das Caixas a Rio Bonito, absorvido pela Estrada de Ferro Cantagalo. A Lei nº 2.690, de 17 de setembro de 1884, autorizou o prolongamento da E. F. Cantagalo desde Rio Bonito até Macaé. A construção foi contratada com Diniz de Noronha Castro em 30 de janeiro de 1885 e no ano seguinte os trabalhos já se achavam bastante adiantados, na altura de Capivari (atual Silva Jardim)/Lagoa de Juturnaíba, tanto que a estação de Cesário Alvim, construída no lugar denominado Campo do Ribeiro, seria inaugurada em julho, com presença do homenageado ex-presidente da Província, Dr. Cesário Alvim.
Entre 1874 e 1880, foi inaugurado o trecho de Porto das Caixas a Rio Bonito, absorvido pela Estrada de Ferro Cantagalo. A Lei nº 2.690, de 17 de setembro de 1884, autorizou o prolongamento da E. F. Cantagalo desde Rio Bonito até Macaé. A construção foi contratada com Diniz de Noronha Castro em 30 de janeiro de 1885 e no ano seguinte os trabalhos já se achavam bastante adiantados, na altura de Capivari (atual Silva Jardim)/Lagoa de Juturnaíba, tanto que a estação de Cesário Alvim, construída no lugar denominado Campo do Ribeiro, seria inaugurada em julho, com presença do homenageado ex-presidente da Província, Dr. Cesário Alvim.
Estação Rocha Leoão - Foto: João Bosco Setti |
Em agosto de 1887 a Companhia Estrada de Ferro Leopoldina comprou da E. F. Cantagalo o ramal férreo Porto das Caixas – Macaé e as obras das estações da União, Califórnia, Imboassica e Macaé foram sub-empreitadas pelo Dr. João Carlos de Almeida Tibagy assim como os abrigos para o material rodante e locomotivas.
Em relatório do Presidente da Província Fluminense à época era informado que estavam sendo obtidos sem dificuldade os terrenos nos novos municípios atravessados pela empresa. Finalmente, em 04 de novembro de 1888 era inaugurado um melhoramento há muito esperado pelos agricultores e comerciantes locais, a ligação ferroviária entre Rio Bonito e Macaé, com a estação da União passando a denominar-se Rocha Leão, em justa homenagem a Antônio da Rocha Fernandes Leão, advogado, famoso fazendeiro e político, que foi Deputado Geral por Minas Gerais de 1872 a 1875 e Presidente da Província do Rio de Janeiro nos anos de 1886 a 1888, e que esteve acompanhando os trabalhos durante seu governo com muita dedicação, especialmente os das estações do trecho Poço das Antas-Indaiassú-União.
Em 1890 o estado financeiro da Companhia E. F. Leopoldina já era melindroso, tendo em vista as operações arrojadas, especulativas e precipitadas, passando a gerar enorme déficit. Assim, no ano de 1897, era organizada a The Leopoldina Railway Company Limited, com sede em Londres, na qualidade de cessionária da E. F. Leopoldina, liquidada forçosamente.
Esse era o ambiente na região, no final do século XIX e alvorecer do seguinte: índice de crescimento econômico da localidade de Rocha Leão maior até que o de Rio das Ostras e uma ferrovia em mãos inglesas, interessadas em estender seus domínios até Campos, baixando tarifas e arrasando com o movimento portuário de Macaé.
O pintor friburguense Pedro Eduardo Salusse comprou a Fazenda União em 1898 por apenas 20:250$000, preço que já levava em conta o esgotamento do solo devido a cultura cafeeira, deixando-a sob a administração de seu filho Eduardo Salusse, casado com Hilda Magalhães Salusse. Aqui abre-se parênteses para falar dos dois proprietários: Pedro Eduardo Salusse foi professor de desenho no Colégio Freese em Nova Friburgo, aperfeiçoando seus estudos na Europa, onde permaneceu de 1857 a 1865 estudando pintura em Anvers.
Especializou-se em paisagens e animais, sendo premiado com medalha de ouro em exposição naquela cidade em reconhecimento ao seu talento; Eduardo Salusse, vereador e presidente da Câmara friburguense - à época o cargo equivalia ao de prefeito do município - nos anos de 1913 e 1915, destacando-se nos períodos a criação da Repartição de Higiene Municipal e isenções de impostos prediais para construções de melhor aparência, com moderna arquitetura e higiene.
Antônio Fernandes da Costa adquiriu a Fazenda União em 1912, certamente como parte de estratégia relacionada ao seu empreendimento inaugurado em terras macaenses na data de 26 de julho de 1896, a Usina Progresso Macaense, destinada ao beneficiamento de café e arroz. Em 1897, o Cel. Fernandes da Costa era morador de Macaé, possuindo diversos imóveis na rua Treze de Maio, atual Av. Rui Barbosa. Relacionando-se com políticos dos partidos fluminenses dominantes tais como Oliveira Botelho, Galiano das Neves Júnior e Paulino Monneratt, ganha do legislativo municipal friburguense, em 1906, concessões para o serviço de fornecimento de energia elétrica e conclusão do serviço de abastecimento de água em Nova Friburgo, encargos que cumpriu até 1911.
Mapa topográfico destricto da Cidade de N.S. da Assumpção de Cabo Frio em 1786 Foto: Manoel Martins do Couto Reys |
No ano seguinte, fundou a Fábrica de Fósforos Veado, na cidade de Macaé, inaugurada com grande pompa em 1913, inclusive na presença do Presidente do Estado. Durou pouco mais de quinze anos, período em que foram importadas toras e mais toras pelo porto da Imbetiba para abastecimento da linha de produção. Essa indústria foi adquirida pela Companhia Brasileira de Fósforos apenas para fechá-la, interessada na formação de um truste do produto.
Interessante citar que a Leopoldina Railway sempre buscava acertar a titularidade de terrenos importantes para o funcionamento de serviços de tráfego ferroviário. Assim, em 1912, João Baptista Sarzedas e sua mulher D. Firmina Maria Sarzedas vendem terras à Leopoldina referentes ao desvio da estação de Rocha Leão. E em 1913 o Coronel Antônio Fernandes da Costa, então morador de Macaé e proprietário da Fazenda União, confessa e reconhece que a The Leopoldina Railway Company Limited é possuidora de uma área de terreno de 83.425 m² entre os quilômetros 144,371 e 150,246 na linha Macaé, da Estrada de Ferro Ramal de Rio Bonito.
Conforme consta em Escritura Pública do Cartório do 1º Ofício de Macaé, a Fazenda União, situada no lugar de Rocha Leão, limitava-se ao norte com a viúva Cassilho e ao sul com o Dr. Cândido Xavier Rabello. Quanto à Leopoldina Railway, com sede em Londres, seu representante na época era o Superintendente Geral no Brasil, Sr. M. C. Milller, e o procurador em Macaé, o Dr. Francisco de Siqueira Dias.
Em 1912, o Almanak Laemmert relaciona em Rocha Leão e Califórnia um administrador de cemitério, dois comissários de polícia, uma professora de escola mista, um agente do correio, além de diversos comerciantes, agricultores e lavradores. Era o progresso das estações ferroviárias que levava o negociante de Rocha Leão, Pedro Vieira Rodrigues, ao mandato de vereador da Câmara Municipal de Barra de São João.
Nota-se ainda, a partir da década de 20, o crescimento da localidade de Jundiá, originada de terras de João Furtado de Mendonça e de José Fernandes Dantas, onde a The Leopoldina Railway construiu uma parada ferroviária por volta de 1937 e explorou uma pedreira durante longos anos, chegando o local a possuir armarinhos, botequins, farmácia, quitanda e até uma escola municipal denominada Brito Pereira. As localidades produziam bastante café e extraíam madeiras nobres e lenha das matas já bem devastadas, acrescidas a estas atividades a produção de cana de açúcar, em especial no local de Rocha Leão, onde se sobressaía o fabricante de aguardente, Artur César da Costa.
Após a queda do preço do café, no final dos anos 20 do século XX, a Fazenda União passa a ter como atividade principal o fornecimento de lenha à Leopoldina Railway. Naquela época, em que a sede do município de Barra de São João já era chamada de Casimiro de Abreu, dois templos religiosos atraíam os moradores da região: a Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Rocha Leão e a Capela de Nossa Senhora das Neves de Califórnia.
Estação de Rocha Leão com lenha empilhada a sua frente. Década de 1970 - Foto: Autor Desconhecido |
Após a queda do preço do café, no final dos anos 20 do século XX, a Fazenda União passa a ter como atividade principal o fornecimento de lenha à Leopoldina Railway. Naquela época, em que a sede do município de Barra de São João já era chamada de Casimiro de Abreu, dois templos religiosos atraíam os moradores da região: a Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Rocha Leão e a Capela de Nossa Senhora das Neves de Califórnia.
Em meados do século XIX, a Fazenda União possuía extensão de cerca de 743,8 alqueires (3.599,99 hectares), sendo comprados apenas 400 alqueires de suas terras pelo Ten-Cel. Joaquim Luiz Pereira de Souza em 1878, já que a outra parte continuou sobre a posse de Antônio Corrêa de Oliveira Bastos e seus herdeiros até pelo menos a década de 10 do século passado. A partir de 1920, já com o Cel. Costa como proprietário, a extensão da Fazenda União passa a aumentar à medida em que iam sendo incorporadas novas propriedades, pelo menos onze, situadas ao redor das terras originais. Dessa forma vemos que no final do ano de 1938 a Fazenda União tinha praticamente dobrado de tamanho em relação ao anotado na sua compra em 1912.
Estação Leão Dourado - Foto: Hugo Caramuru |
Em 1934, o município de Barra de São João era dirigido pelo prefeito Carlos Honório Berbet e Rio Dourado apresentava uma das movimentadas estações da Estrada de Ferro Leopoldina, sendo considerada marítima em função da existência de um desvio da linha férrea que chegava até o povoado de Rio das Ostras, com traçado parecido com o da atual rodovia RJ-162.
Na localidade, que possuía um cemitério, os seguintes homens e sociedades eram notáveis:
Cel. José Lopes de Oliveira Lírio, agricultor e fabricante de aguardente;
João Batista, comerciante de secos, molhados e outros;
Cláudio Gonçalves, negociante de aves e ovos;
Jardim & Mota, comerciante de secos, molhados e outros;
Joaquim Jardim, negociante de aves e ovos;
Leopoldino José de Medeiros, dono de padaria;
Moisés dos Santos Silva, farmacêutico;
Gualberto Oliveira, também dono de padaria
No alvorecer do ano de 1939, Nelson de Menezes Póvoa, agente fornecedor de lenha à The Leopoldina Railway, e sua mulher Maria Carlota Barreto Póvoa compram a Fazenda União do espólio do Coronel Antônio Fernandes da Costa. Nelson Póvoa, filho de pais são-joanenses, Francisco Póvoa e Isabel Maria Menezes, que foram proprietários dos solares da Penha e do Limão, além dos Campos de Muritiba em São João da Barra, casouse em 1920 com Maria Carlota, tendo sido grande esportista em Campos, onde fundou o Americano Futebol Clube, pelo qual foi campeão municipal em 1915 como jogador.
Pátio da Fazenda União para o carregamento de dormentes - Foto: Reprodução da internet |
No alvorecer do ano de 1939, Nelson de Menezes Póvoa, agente fornecedor de lenha à The Leopoldina Railway, e sua mulher Maria Carlota Barreto Póvoa compram a Fazenda União do espólio do Coronel Antônio Fernandes da Costa. Nelson Póvoa, filho de pais são-joanenses, Francisco Póvoa e Isabel Maria Menezes, que foram proprietários dos solares da Penha e do Limão, além dos Campos de Muritiba em São João da Barra, casouse em 1920 com Maria Carlota, tendo sido grande esportista em Campos, onde fundou o Americano Futebol Clube, pelo qual foi campeão municipal em 1915 como jogador.
Sua esposa teve uma vida igualmente digna de nota: professora, ajudou como Dama de Caridade na construção do Hospital Luiz Palmier, em São Gonçalo, e dirigiu a Fundação Anchieta (1940 a 1946 e 1951 a 1962). A creche e o jardim de infância que funcionavam anexos à Fundação Anchieta em Niterói receberam seu nome em justa homenagem.
Nelson de Menezes Póvoa alega na escritura de compra e venda do imóvel (com pacto adjeto de hipoteca em favor da The Leopoldina Railway Company Limited) registrada no 17º Ofício de Notas do Rio de Janeiro (Livro 269, Fls. 4) que “ está se vendo em dificuldades para atender ao fornecimento desse combustível necessário ao tráfego, quer pela escassez das matas de corte, nas proximidades das linhas, quer pelo afastamento entre estas e os centros florestais, quer pela falta de caminhos e pelo mau estado dos poucos existentes para o transporte do lugar em que é cortada até a margem da estrada de ferro; que se continuar assim, não poderá em breve fornecer a lenha necessária; (...) ”.
Então Póvoa solicita à Leopoldina Railway 890:000$000 (oitocentos e noventa contos de réis) para aquisição da Fazenda União, com a qual poderia regularizar o abastecimento de lenha usada como combustível nas locomotivas a vapor. Obrigando-se o comprador a realizar a venda da fazenda no prazo de cinco anos à empresa inglesa pelo preço de 100:000$000 (cem contos de réis), foi prontamente aceito o acordo por ambas as partes.
Estação Rocha Leão - Foto: Rosane Carla |
Na época da eclosão da 2º Guerra Mundial, a Fazenda União, apesar de ser propriedade de Nelson Póvoa, passa a funcionar quase que integralmente de acordo com os interesses da Leopoldina Railway. A parte das terras que eram cultivadas foi gradativamente diminuindo de extensão; a utilização dos pastos para a criação de bovinos foi desestimulada e o número de colonos ou mesmo de empregados caiu drasticamente. Uma serraria foi instalada na fazenda, movida por locomóvel ou “vaporenta”, com objetivo de fornecer madeira para as obras de construção civil e fabricação de móveis, atendendo especialmente à empresa inglesa.
Em 1941 era contratado pela The Leopoldina Railway Company Limited o engenheiro agrônomo Nelson C. Brioso, iniciando-se os primeiros reflorestamentos com eucalipto na Fazenda União, seguindo as técnicas estabelecidas por Edmundo Navarro de Andrade, que introduziu o seu cultivo no Brasil e publicou diversas obras sobre o assunto (“Cultura do Eucalipto”, “A Cultura do Eucalipto nos Estados Unidos”, “Manual do Plantador de Eucaliptos” e “Os Eucaliptos – sua cultura e exploração”). O Engº. Brioso havia trabalhado com Navarro de Andrade na Companhia Paulista de Estradas de Ferro, e esses plantios visavam tanto o abastecimento futuro de lenha combustível, em face da devastação florestal, quanto o fornecimento de dormentes, postes, mourões e madeira serrada para suprimento das necessidades da ferrovia.
Então, foi instalado na área um viveiro para produção de mudas de eucalipto, com as espécies Eucalyptus alba e Eucalyptus saligna. No ano de 1942, quando lá paravam os trens de passageiros Mixto e Expresso a caminho de Campos/Vitória, Rocha Leão era a principal estação da região com referência ao negócio que envolvia lenha, dormentes, carvão e madeiras diversas que Nelson Póvoa dominava ao lado de Benedito Velasco, Maria de Castro e Lino Batista Cunha.
Em 30 de abril de 1945, Nélson de Menezes Póvoa vende a Fazenda União para a Leopoldina Railway, conforme escritura pública de compra e venda lavrada nas notas do tabelião do 17º Ofício da Cidade do Rio de Janeiro, iniciando-se, dois anos após, uma nova era anunciada por medidas importantes, como o início do corte seletivo de árvores nativas, quando somente eram abatidas e retiradas árvores adultas e maduras.
A empresa inglesa, que já vinha de uma séria crise financeira devido ao declínio da produção cafeeira no Brasil, passa a sofrer com a decomposição do parque ferroviário durante a Segunda Guerra Mundial pela cessação das importações de equipamentos para reposição e por não ter havido a implantação de uma infraestrutura industrial para o setor.
Além disso, a partir da década de 1930, começa por parte do Governo Brasileiro uma intensa política em favor das rodovias, acentuada nos anos 50 com o surgimento da indústria automobilística no país. Tendo em vista o ambiente, era celebrado em Londres, em 26 de maio de 1949, um acordo entre o Governo dos Estados Unidos do Brasil, representado pelo Sr. Vieira Machado, chefe da missão comercial, e a The Leopoldina Railway Company Limited, encampando a rede ferroviária concedida à companhia dos ingleses, a qual passou a denominar-se Estrada de Ferro Leopoldina.
O incrível acordo seria legitimado pela Lei Federal nº 1.288, de 20 de dezembro de 1950, que, além de todo o dinheiro embolsado pelos estrangeiros durante o tempo da concessão, determinava que ainda seriam pagos dez milhões de libras esterlinas pelos bens encampados da Leopoldina Railway.
No ano de 1952 é enviado pelo então Presidente Getúlio Vargas um projeto ao Congresso Nacional para criação da Rede Ferroviária Federal S. A., que incorporava as estradas de ferro de propriedade da União e por ela administradas. Dois anos após, começaram intensas discussões com a sociedade organizada/entidades sindicais sobre os motivos do projeto - justificava-se a criação da empresa como uma questão de segurança nacional -, apimentadas posteriormente por diversas passeatas e atos públicos dos ferroviários na Cidade do Rio de Janeiro. Apaziguados os ânimos e esclarecidos os trabalhadores e a sociedade, era criada em 1957 a R.F.F.S.A., mediante autorização da Lei nº 3.115, pela consolidação de 18 ferrovias regionais, controlada pelo Governo Federal, vinculada ao Ministério dos Transportes. A Leopoldina fica então sob a jurisdição da SR-3, Superintendência Regional com sede em Juiz de Fora.
A Fazenda União passa a ser administrada pelo Engº. Agrônomo João Evangelista da Silva Ramos no ano de 1952, estendendo-se seu período por treze anos, sendo marcado logo no início por dois fatos que impactariam fortemente a vida da fazenda e de Rocha Leão: a dieselisação das locomotivas e o começo da abertura da BR-5, atual BR-101.
Já no relatório referente ao ano de 1951, o Ministro da Viação e Obras Públicas previa para o exercício seguinte a aquisição de 141 locomotivas diesel-elétricas, enquanto apenas 12 a vapor seriam compradas pela Leopoldina. A substituição da locomotiva “maria–fumaça” trouxe a desejada mudança de combustível de lenha para diesel, fazendo com que a Fazenda União passasse a ter como objetivo maior a produção de dormentes, cada vez mais resistentes, levando a troca gradativa dos plantios de Eucalyptus saligna e Eucalyptus alba pelos de Eucalyptus citriodora.
Outro fato interessante da época foi o início da exploração da BR-5 ainda em terra batida pelo Governo Federal já em 1952, ocorrendo algumas melhorias no trecho Casimiro de Abreu – Macaé a partir de 1956/1957, que antes não era mais do que um caminho descontínuo, aberto pelas mãos dos fazendeiros e lavradores pioneiros da região.
Em 1962, iniciava-se a construção de uma usina na Fazenda União para tratamento de madeiras como parte da política da R.F.F.S.A. que visava o aumento da vida útil dos dormentes. Assim, após dois anos, era inaugurada a Usina de Tratamento de Dormentes Engenheiro Hugo Motta, em homenagem ao saudoso Superintendente da ferrovia. A R.F.F.S.A. antecipava-se dessa forma à Lei nº 4.797/65 assinada pelo Presidente Castelo Branco, que tornava obrigatório o emprego de madeiras preservadas, especialmente preparadas e trabalhadas, para diminuir o uso de mata nativa.
Dentre os acontecimentos daquela fase, lembramos de um, do ano de 1963, muito mencionado em entrevistas feitas junto a população local: a inauguração das viagens entre Campos e Rio de Janeiro por luxuosas e confortáveis automotrizes (litorinas), com buffet, ar refrigerado, janelas panorâmicas, poltronas reclináveis e total asseio, ao contrário do trem expresso com duas classes de passageiros, não muito confortável e nem sempre pontual.
No final desse período foi instalado na Fazenda União um viveiro de mudas nativas. A partir de 1964, a propriedade passou a ter uma escola municipal, regida pela Profª. Neiva Magalhães Ribeiro, além de um posto de saúde/ambulatório próximo ao escritório do administrador, onde trabalhavam dois médicos, um dentista, uma enfermeira - a Srª. Lacy Sarzedas Borges, e um motorista de ambulância. Entre 1950 e 1970 a vida social na fazenda chegou a ser bastante intensa, e até um time de futebol formado por funcionários disputava campeonatos regionais.
Em determinadas épocas, residiam na propriedade cerca de quarenta famílias em casas próximas à estrada do Lavapé e na área próxima ao pátio ferroviário. Na fase da R.F.F.S.A. essas casas eram cedidas aos funcionários pelo administrador mediante desconto de 2% nos salários dos funcionários residentes.
Praça do Trem - Rocha Leão - Foto: Prefeitura Municipal de Rio das Ostras |