A Vila histórica de Mambucaba se encontra no 4° distrito do município de Angra dos Reis, no litoral sul do Rio de Janeiro. Na antiga sede do distrito de Mambucaba, atualmente reconhecida legalmente como Vila Histórica, ficam os bairros de Parque Mambucaba (Perequê), Praia Vermelha, Vila Residencial Praia Brava e Boa Vista.
Pelo rio Mambucaba, encontra-se a Vila Residencial (antigamente conhecida como Praia da Parada) e a Praia da Batanguera (atualmente conhecida como Coqueiro ou Morrinho). O acesso é pela Rodovia Governador Mário Covas (Rio-Santos).
O nome de origem indígena, tem significado controverso. Alguns afirmam que deriva de mambuca, uma pequena abelha sem ferrão mais conhecida como "japurá" (ou abelha-cachorro), abundante na região. Alguns outros se referem a uma planta muito abundante ali.
Há, ainda, outros que defendem significar "passagem". Esta última interpretação busca origem no fato de que, margeando o rio, temos um caminho que já era utilizado pelos índios da região como meio de ligação com o Planalto Paulista.
Seu nome oficial era, Freguesia de Nossa Senhora do Rosário de Mambucaba. Existiam cerca de 20 grandes propriedades, divididas entre fazendas de café e engenhos de açúcar. Ainda é possível ver as ruínas dos engenhos do Itapicu, da Fortaleza e de outras engenhocas no interior do Perequê.
Esse caminho chegou a ter longos trechos calçados, utilizando-se de mão de obra escrava, para o escoamento da produção de café dos "barões do café". O nome "Mambucaba" também designa o rio que, junto à povoação, encontra o mar, tendo sua nascente no estado de São Paulo, dentro do Parque Nacional da Serra da Bocaina, no município de São José do Barreiro.
Dentro do território fluminense, o rio marca a divisa entre os municípios de Angra dos Reis e Parati.
Na primeira metade do século XIX, além dos portos de Angra dos Reis, Paraty, e Mangaratiba, desenvolveram-se pequenos portos em Jurumim, Ariró, Itanema, Frade, Mambucaba e Abraão. No inicio do século, Mambucaba se tornou Paróquia (1809), depois Freguesia (1811). Nesse momento dominava a produção de cana de açúcar (para a indústria de aguardente), café, arroz, mel, e outros gêneros alimentícios.
O ponto máximo de progresso atingido por Mambucaba foi, provavelmente, depois de 1830, quando a expansão do café em Areias e Bananal alimentou o contrabando de escravos, tornando seu porto o segundo em ordem de importância na região, depois de Angra.
O porto de Mambucaba tinha um movimento extraordinário, servia para exportar o café da província de São Paulo; receber os objetos de valor, os tecidos finos, os perfumes e as jóias para sustentar a opulência das famílias dos grandes cafeicultores do planalto paulista. Infelizmente serviu de porta de entrada para centenas de escravos, conduzidos às fazendas de café.
Sempre indicador da riqueza dos habitantes, nova igreja foi construída: a Igreja de N.S. do Rosário, originalmente lugar de uma capela construída em 1770, foi reconstruída em 1800.
Diante da ocupação da região pelos portugueses no século XVI, os índios que utilizavam o local para coleta de alimentos permaneceram na margem sul do rio, de onde atacavam com frequência os portugueses que se instalaram na margem norte (local da atual vila). Os portugueses eram obrigados a manter vigilância diuturna diante da ameaça.
Os europeus persistiram no local e, ainda no século XVI, estabeleceram, ali, um importante ponto de caça a baleia para produção de óleo de baleia. Cabe salientar que esses locais eram de tamanha importância para o reino português que seu estabelecimento só se dava com autorização do próprio rei.
A vila ganhou um casario significativo durante a época áurea do café, tendo um teatro, uma igreja dedicada a Nossa Senhora do Rosário, razoável e variado comércio, havendo registros do estabelecimento de um vice-cônsul da França na localidade. Com a decadência do porto, após a ligação ferroviária entre São Paulo e Rio em 1872, passou por décadas de abandono e letargia econômica.
Em 1968, foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional — IPHAN, sendo um dos raros sítios históricos brasileiros que foram tombados em sua totalidade, não somente as edificações, mas também o traçado urbano e equipamentos referentes à ocupação do local, estando, hoje, tal situação bastante desfigurada.
A abertura da rodovia Rio-Santos no início da década de 1970 chegou a ameaçá-la, gerando vários protestos de movimentos culturais da sociedade civil em Angra dos Reis.
Nessa década, ainda foi desativado o posto policial lá existente, sendo instalada uma companhia de Polícia Militar em barracões à margem da rodovia, agora com a finalidade de fornecer proteção às obras de construção das usinas nucleares.
Nas décadas seguintes, com a chegada da energia elétrica (1984), rede de água potável e calçamento de suas ruas, o turismo de veraneio se estabeleceu como a principal fonte de desenvolvimento local, juntamente com o estabelecimento de moradores vindos de outras regiões do estado e do país à procura de trabalho nas usinas.
Atualmente, a antiga vila é ponto de veranistas que vêm de outras regiões do oeste do estado do Rio de Janeiro, da cidade do Rio de Janeiro e do estado de São Paulo. Possui cerca de setecentos habitantes fixos (alcançando aproximadamente 10 000 visitantes no verão). Mantém boa parte do seu casario colonial. Sua infraestrutura teve grandes melhorias nos últimos anos, tendo praticamente todas as ruas recebido calçamento e iluminação pública. Um posto de saúde e uma escola também são oferecidos à população local pela prefeitura angrense.
Existe, ainda, com esse nome, uma de duas vilas residenciais mantidas pela empresa de energia estatal Eletronuclear para empregados da Usina nuclear de Angra dos Reis. No bairro Parque Mambucaba, conhecido até poucos anos atrás como Perequê (que significa "caminho de subida do peixe", em virtude das áreas de mangue em suas margens onde o peixe sobe para se reproduzir - significando fartura), residem por volta de 21 mil pessoas, população que se multiplica nos finais de semana e feriados ao longo dos meses de dezembro e março, quando do afluxo de pessoas vindas, principalmente, da região do Vale do Paraíba Fluminense, e que possuem residências de veraneio no local.
Esse bairro ganhou, nos últimos 15 anos, razoável infraestrutura de comércio e prestação de serviços públicos e particulares, já que muitos trabalhadores e ex-trabalhadores das obras das usinas nucleares, bem como aposentados de outras cidades, resolveram ali residir permanentemente, devido à proximidade de outras localidades com acesso ao mar e a abundância de terrenos planos vagos, bem como a facilidade de acesso via Rodovia Rio-Santos.
Essa região é atendida, em relação à segurança pública e defesa civil, pelo 33º Batalhão de Polícia Militar, cuja sede está situada na entrada do bairro Parque Mambucaba, e pelo 1º Destacamento do 26º Grupamento de Bombeiro Militar, localizado na Vila Operária. Um hospital está localizado no bairro de Praia Brava e é mantido pela Eletronuclear e atende ao Sistema Único de Saúde e a convênios.
A ocupação da Costa Verde
A costa brasileira, no século XVI, era ocupada por várias tribos indígenas de diferentes troncos de origem. Na região de Santos, Guarujá, Bertioga e parte de São Sebastião, habitavam os índios tupiniquins com o cacique Tibiriçá e, exatamente na serra de Boiçucanga (São Sebastião), habitavam seus arqui-inimigos, os tupinambás com o cacique Cunhambebe, que dominava as cidades de Caraguatatuba, Ubatuba, Paraty, Angra dos Reis e Mangaratiba.
Após o descobrimento do Brasil, Portugal não se interessou em colonizar de imediato as novas terras descobertas, pois seu objetivo maior era encontrar um caminho para as Índias que não necessitasse passar pelo congestionado Mediterrâneo.
Porém, os franceses sob o comando de Nicolas Durand de Villegagnon, que aqui pretendiam instalar a “França Antártica”, viram na costa brasileira dois produtos interessantes: o índio e o pau-brasil. E conseguiram, a muito custo, fazer uma aliança com os tupinambás. Estes os ajudavam a capturar índios de outras nações indígenas e também a extrair o pau-brasil.
Quando da descoberta da prata via Rio da Prata em Potosí, no Peru, Portugal enviou Martim Afonso de Souza com o objetivo de encontrar um caminho pelo interior para achar o tal tesouro e também defender suas terras da abusiva extração da árvore da tinta vermelha, feita pelos franceses.
Martim Afonso, chegando à ilha de São Vicente, conseguiu por intermédio de João Ramalho, um degredado que já há muito vivia no litoral vicentino, aliar-se aos tupiniquins.
Significado em tupi do nome das cidades
A Rodovia Rio-Santos
O traçado da estrada era para ser um segredo de Estado. Assim, quando a Rodovia Rio-Santos, a BR-101, cortasse os 500 quilômetros da costa entre essas duas cidades litorâneas, o habitante local estaria protegido em sua terra, preservado da especulação imobiliária decorrente da valorização que a região sofreria em consequência da estrada. Porém, não foi isto que aconteceu.
A frente do governo do, então, Estado da Guanabara, estava o senhor Carlos Lacerda que, devido à sua posição política, teve prévio conhecimento do traçado da rodovia e das faixas de terra por esta rasgadas.
Quando o trecho da rodovia BR-101 entre Santa Cruz, no Rio de Janeiro, e Ubatuba, no litoral Paulista, foi inaugurado em meados da década de 70, grande parte dos títulos de terras deste litoral estava em poder de empresas estrangeiras, com o nome de Carlos Lacerda funcionando como testa de ferro.
inicia-se então um novo drama na vida dos habitantes desta região, o caboclo do litoral conhecido pelo nome de "caiçara", bem como nas comunidades indígenas Guarani que se espalhavam pela Costa Brasileira. A ameaça de expulsão de suas posses centenárias concretizou-se em várias ocasiões, ao mesmo tempo em que começavam a surgir favelas nas periferias das cidades da região.
Sem terra onde plantar sua pequena roça de consumo e sem seu mar, de onde tirava o "peixe nosso de cada dia", o caiçara, expulso da posse, tornou-se mais um segmento marginalizado em nossa sociedade.
Em 1973 a empresa francesa Scet Internacional elaborou e apresentou o Projeto Turis à Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR). O projeto pretendia equiacionar o problema turístico do litoral Rio-Santos, propondo um plano diretor para a região. Esse projeto propugnava "um planejamento normativoglobal, com estudos e normas de ocupaçõ que ingressassem as construções aos ambientes e às destinações turísticas, visando à maximização de rentabilidadede toda a região aliada a uma implantação adequada".
Os redatores do projeto - preocupados com a preservação ambiental como fator de desenvolvimento turístico - tinham certeza de que "a construção da rodovia teria consequências drásticas na região". Reconheciam, também, que a implantação era meta prioritária no governo federal, então em plena época de "Brasil Grande".
Já em 1968, haviam sido iniciados os estudos de viabilidade técnico-econômica para a construção de uma estrada entre as cidades doRio de Janeiro e Santos. O trecho Rio-Santos faz parte da BR-101, um eixo rodoviário cujos extremos situam-se em Osório no Rio Grande do Sul e em Fortaleza no Ceará, cruzando o país de norte a sul, paralelo e próximo ao litoral.
Conforme o texto do Projeto Turis, a estrada poderia ser considerada um importante equipamento turístico, uma vez que dava vazão a um grande intercâmbio provocado pela busca de praias e da natureza por parte das populações das grandes cidades do macroeixo Rio/São Paulo.
O texto do projeto reconhecia que o litoral Rio-Santos configura-se como uma estreita fita serpenteando pelos contrafortes da Serra do Mar. "Em nenhum outro ponto do litoral brasileiro a Serra do Mar se aproxima tanto do Oceâno Atlântico quanto nesta parte entre o Rio e Santos". Numa paisagem extremamente variada com uma costa recortada, foram disgnosticadas, ao longo desta região litorânea, cerca de 500 ilhas parcéis e lages.
Apresar do alerta e das propostas do Ptrojeto Turis na preservação ambiental desta região comofator de desenvolvimento turístico (a matéria-prima da indústria turística é a natureza), o traçado desta estrada aterrou cerca de 70 praias deste belo litoral.
Ainda em 1973, o paisagista Burle Max encaminhou ao Conselho Federal de Cultura um comovido relatório denunciando as agressões que estavam sendo praticadas contra o meio ambiente na região. "No trecho entre Angra dos Reis e Paraty, a multilação e a violação à natureza atinge proporções indescrtíveis: os cortes são feitos nas montanhas com brutalidade nunca vista, com mais de 100 metros de altura e essa terra é jogada das enconstas aterrando e soterrando as florestas".
Quando o trecho da estrada até Ubatua foi inaugurado, o engenheiro agrônomo Nelson Cembranelli Schimidt, então na base do Instituto Agronômico de Campinas, no Vale do Paraíba, demonstrou que o leito da rodovia funcionava com um dique represando as águas oriundas das nascentes da Serra do Mar. A água ali represada, que fez apodrecer a vegetação nativa, poderpa conforme o agrônomo, forçar o rompimento da estrada causando danos humanos e materiais incalculáveis.
O mesmo fenômeno repetiu-se anos mais tarde, na década de 80, uqndo no governo João Batista Figueiredo foi retomada a construção de alguns trechos da estrada entre Bertioga e São Sebastião.
Entretanto, um fato é verdadeiro: as agresões ambientais não cessaram quando a ligação Rio-Santos foi concluída. Ao contrário, iniciou-se, então, uma nova fase de devastação, cujo agente principal é a especulação imobiliária. Com frágeis equipamentos legais de proteção de uso do solo, as prefeituras dos municípios cortados pela estrada viram, pouco a pouco, muitas de suas florestas darem lugar a compos de golfe e quadras de tênis de poderodos empreendimentos turísticos.
Isto tudo, ao lado da privatizaçõa e poluição das praias que, ancestralmente, haviam pertencido aos caiçaras, pescadores artesanais neste litoral. Por outro lado, a precariedade de fiscalização dos órgãos responsáveis pela preservação ambiental deixa sem defesa áreas imensas das florestas primárias, assaltadas por palmiteiros e por caçadores e vendedores de pássaros.
O Parque Nacional de Bocaina, sob responsabilidade do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), com mil quilômetros quadrados de extensão, e que abrange os estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, tem somente oito agentes de defesa florestal atuando em sua área, sendo que um deles é responsável por todo o município de Paraty.
Os faróis do trator mais pareciam os olhos de Boitatá. As crianças, que ninca tinham visto coisa igual, se encolheram junto às saias das mães que também olhavam o monstro assustadas. Sob o impacto da pesada máquina, troncos de jequitibás, perobas e massarandubas centenárias iam tombando um a um.
Em poucas horas acontecia o que pareceu o prenúncio do fim do mundo para os caiçaras. A ocupação secular de gerações não destruíra o que o loteamento ou a estrada conseguiram em poucas horas.
E o caiçara que vivera isolado, com sua economia de consumo e com seus costumes e valores próprios, viu-se de repente inserido numa outra sociedade, sem saber o que significava e sem estar preparado para ela.
Se por um lado a construção da Rodovia Rio-Santos trouxe um desenvolvimento econômico a este litoral, por outro, foi a causa de uma perda de terra e marginalização de centenas de famílias caiçaras que antes viviam tranquilamente em suas posses.
Descendentes de índios, portugueses, negros e, também de numerosos piratas europeus que visitavam este litoral, o caiçara é um homem ajustado à natureza. Sempre vivendo perto do mar, é ele que rege seu destino.
Apesar de ser antiga região na colonização portuguesa (Paraty já foi o mais importante porto de exportação do país), esta zona costeira, durante a primeira metade do século, conheceu a estagnação econômica, permanecendo à parte do processo de desenvolvimento do país. Porém, na sua pobreza, o caiçara viva tranquilo.
Foram numerosas as disputas pela posse de terras nesta região costeira, sendo que a mais famosa, a luta dos caiçaras da Praia de Trindade contra o conglomerado multinacional Adela - Agência de Desarollo de la América Latina - composto por 280 multinacionais, durou cerca de dez anos e com inúmeros lances de violência, quando casas de caiçaras foram queimadas e jovens professoras, que insistiram em lecionar na comunidade, foram estupradas pelos jagunços da empresa.
No Estado do Rio de Janeiro, devido à própria fragilidade da estrutura jurídica ponde a Praia de Trindade, por exemplo, uma liminar concedida ao caiçara não foi respeitada pelo próprio juiz de direito de Paraty, os conflitos se deram mais abertamente com confrontos diretos e claros. Os funcionários do fórum de Paraty reconhecem que se todos os títulos de terra do município fosse verdadeiros, este teria três andares...
Já no Estado de São Paulo, o que se observou foi a pressão indireta obrigando o caiçara a sair da terra por um preço muito abaixo do seu valor. Expulso de sua posse, o destino, por via de regra, é o mesmo para todos. O antigo pescador, sem preparo para a vida na cidade, tenta a construção civíl.
O sonho de conclusão da Rodovia BR-101 acabou juntamente com o do "Brasil Grande". O trecho da estrada entre Santos e Ubatuba nunca foi concluído. Ficaram as cicatrizes e os cortes na Serra do Mar e na Mata Atlântica, além dos numerosos viadutos perdidos na floresta tropical, como cenário de um filme de aventuras sobre civilizações desaparecidas.
Em Caraguatatuba, em meio à Mata Atlântica, há um viaduto abandonado de 50 metros de altura por 250 metros de comprimento. No trecho de Ubatuba e São Sebastião ainda é usada a ligação SP-55.
Porém, para todos os fins, essa ligação ficou sendo conhecida como BR-101, ou seja, a Rio-Santos. De concreto, o que sobrou foi um brutal aumento em nossa dívida externa, pois a estrada foi financiada com dinheiro estrangeiro.
Pelo rio Mambucaba, encontra-se a Vila Residencial (antigamente conhecida como Praia da Parada) e a Praia da Batanguera (atualmente conhecida como Coqueiro ou Morrinho). O acesso é pela Rodovia Governador Mário Covas (Rio-Santos).
O nome de origem indígena, tem significado controverso. Alguns afirmam que deriva de mambuca, uma pequena abelha sem ferrão mais conhecida como "japurá" (ou abelha-cachorro), abundante na região. Alguns outros se referem a uma planta muito abundante ali.
Há, ainda, outros que defendem significar "passagem". Esta última interpretação busca origem no fato de que, margeando o rio, temos um caminho que já era utilizado pelos índios da região como meio de ligação com o Planalto Paulista.
Seu nome oficial era, Freguesia de Nossa Senhora do Rosário de Mambucaba. Existiam cerca de 20 grandes propriedades, divididas entre fazendas de café e engenhos de açúcar. Ainda é possível ver as ruínas dos engenhos do Itapicu, da Fortaleza e de outras engenhocas no interior do Perequê.
Parque Mambucaba (Perequê) - Foto: Reprodução da internet |
Dentro do território fluminense, o rio marca a divisa entre os municípios de Angra dos Reis e Parati.
Foz do Rio Mambucaba na divisa entre Angra dos Reis e Paraty - Foto: Reprodução da internet |
O ponto máximo de progresso atingido por Mambucaba foi, provavelmente, depois de 1830, quando a expansão do café em Areias e Bananal alimentou o contrabando de escravos, tornando seu porto o segundo em ordem de importância na região, depois de Angra.
O porto de Mambucaba tinha um movimento extraordinário, servia para exportar o café da província de São Paulo; receber os objetos de valor, os tecidos finos, os perfumes e as jóias para sustentar a opulência das famílias dos grandes cafeicultores do planalto paulista. Infelizmente serviu de porta de entrada para centenas de escravos, conduzidos às fazendas de café.
Sempre indicador da riqueza dos habitantes, nova igreja foi construída: a Igreja de N.S. do Rosário, originalmente lugar de uma capela construída em 1770, foi reconstruída em 1800.
Diante da ocupação da região pelos portugueses no século XVI, os índios que utilizavam o local para coleta de alimentos permaneceram na margem sul do rio, de onde atacavam com frequência os portugueses que se instalaram na margem norte (local da atual vila). Os portugueses eram obrigados a manter vigilância diuturna diante da ameaça.
Os europeus persistiram no local e, ainda no século XVI, estabeleceram, ali, um importante ponto de caça a baleia para produção de óleo de baleia. Cabe salientar que esses locais eram de tamanha importância para o reino português que seu estabelecimento só se dava com autorização do próprio rei.
Igreja de Nossa Senhora do Rosário - Foto: Reprodução da internet |
Em 1968, foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional — IPHAN, sendo um dos raros sítios históricos brasileiros que foram tombados em sua totalidade, não somente as edificações, mas também o traçado urbano e equipamentos referentes à ocupação do local, estando, hoje, tal situação bastante desfigurada.
A abertura da rodovia Rio-Santos no início da década de 1970 chegou a ameaçá-la, gerando vários protestos de movimentos culturais da sociedade civil em Angra dos Reis.
Ônibus escolar que passava na Vila Residêncial de Mambucaba em 1979 - Foto: Reprodução da internet |
Nessa década, ainda foi desativado o posto policial lá existente, sendo instalada uma companhia de Polícia Militar em barracões à margem da rodovia, agora com a finalidade de fornecer proteção às obras de construção das usinas nucleares.
Nas décadas seguintes, com a chegada da energia elétrica (1984), rede de água potável e calçamento de suas ruas, o turismo de veraneio se estabeleceu como a principal fonte de desenvolvimento local, juntamente com o estabelecimento de moradores vindos de outras regiões do estado e do país à procura de trabalho nas usinas.
Atualmente, a antiga vila é ponto de veranistas que vêm de outras regiões do oeste do estado do Rio de Janeiro, da cidade do Rio de Janeiro e do estado de São Paulo. Possui cerca de setecentos habitantes fixos (alcançando aproximadamente 10 000 visitantes no verão). Mantém boa parte do seu casario colonial. Sua infraestrutura teve grandes melhorias nos últimos anos, tendo praticamente todas as ruas recebido calçamento e iluminação pública. Um posto de saúde e uma escola também são oferecidos à população local pela prefeitura angrense.
Existe, ainda, com esse nome, uma de duas vilas residenciais mantidas pela empresa de energia estatal Eletronuclear para empregados da Usina nuclear de Angra dos Reis. No bairro Parque Mambucaba, conhecido até poucos anos atrás como Perequê (que significa "caminho de subida do peixe", em virtude das áreas de mangue em suas margens onde o peixe sobe para se reproduzir - significando fartura), residem por volta de 21 mil pessoas, população que se multiplica nos finais de semana e feriados ao longo dos meses de dezembro e março, quando do afluxo de pessoas vindas, principalmente, da região do Vale do Paraíba Fluminense, e que possuem residências de veraneio no local.
Esse bairro ganhou, nos últimos 15 anos, razoável infraestrutura de comércio e prestação de serviços públicos e particulares, já que muitos trabalhadores e ex-trabalhadores das obras das usinas nucleares, bem como aposentados de outras cidades, resolveram ali residir permanentemente, devido à proximidade de outras localidades com acesso ao mar e a abundância de terrenos planos vagos, bem como a facilidade de acesso via Rodovia Rio-Santos.
Essa região é atendida, em relação à segurança pública e defesa civil, pelo 33º Batalhão de Polícia Militar, cuja sede está situada na entrada do bairro Parque Mambucaba, e pelo 1º Destacamento do 26º Grupamento de Bombeiro Militar, localizado na Vila Operária. Um hospital está localizado no bairro de Praia Brava e é mantido pela Eletronuclear e atende ao Sistema Único de Saúde e a convênios.
A ocupação da Costa Verde
A costa brasileira, no século XVI, era ocupada por várias tribos indígenas de diferentes troncos de origem. Na região de Santos, Guarujá, Bertioga e parte de São Sebastião, habitavam os índios tupiniquins com o cacique Tibiriçá e, exatamente na serra de Boiçucanga (São Sebastião), habitavam seus arqui-inimigos, os tupinambás com o cacique Cunhambebe, que dominava as cidades de Caraguatatuba, Ubatuba, Paraty, Angra dos Reis e Mangaratiba.
Centro Histórico de Paraty - Foto: Reprodução da internet |
Porém, os franceses sob o comando de Nicolas Durand de Villegagnon, que aqui pretendiam instalar a “França Antártica”, viram na costa brasileira dois produtos interessantes: o índio e o pau-brasil. E conseguiram, a muito custo, fazer uma aliança com os tupinambás. Estes os ajudavam a capturar índios de outras nações indígenas e também a extrair o pau-brasil.
Quando da descoberta da prata via Rio da Prata em Potosí, no Peru, Portugal enviou Martim Afonso de Souza com o objetivo de encontrar um caminho pelo interior para achar o tal tesouro e também defender suas terras da abusiva extração da árvore da tinta vermelha, feita pelos franceses.
Martim Afonso, chegando à ilha de São Vicente, conseguiu por intermédio de João Ramalho, um degredado que já há muito vivia no litoral vicentino, aliar-se aos tupiniquins.
Significado em tupi do nome das cidades
- Guarujá: viveiro dos guarus
- Bertioga: paradeiro das tainhas
- Caraguatatuba: lugar de muitos caraguatás
- Ubatuba: lugar de muitas frutas
- Paraty: rio das tainhas
- Mangaratiba: lugar de muita banana
- Itaguaí: enseada das pedras
A Rodovia Rio-Santos
O traçado da estrada era para ser um segredo de Estado. Assim, quando a Rodovia Rio-Santos, a BR-101, cortasse os 500 quilômetros da costa entre essas duas cidades litorâneas, o habitante local estaria protegido em sua terra, preservado da especulação imobiliária decorrente da valorização que a região sofreria em consequência da estrada. Porém, não foi isto que aconteceu.
Trecho da Rodovia Rio-Santos na altura de Mambucaba em Angra dos Reis - Foto: Dirceu Neto |
Quando o trecho da rodovia BR-101 entre Santa Cruz, no Rio de Janeiro, e Ubatuba, no litoral Paulista, foi inaugurado em meados da década de 70, grande parte dos títulos de terras deste litoral estava em poder de empresas estrangeiras, com o nome de Carlos Lacerda funcionando como testa de ferro.
Angra dos Reis x Divisa de Paraty - Viação Senhor do Bonfim |
inicia-se então um novo drama na vida dos habitantes desta região, o caboclo do litoral conhecido pelo nome de "caiçara", bem como nas comunidades indígenas Guarani que se espalhavam pela Costa Brasileira. A ameaça de expulsão de suas posses centenárias concretizou-se em várias ocasiões, ao mesmo tempo em que começavam a surgir favelas nas periferias das cidades da região.
Sem terra onde plantar sua pequena roça de consumo e sem seu mar, de onde tirava o "peixe nosso de cada dia", o caiçara, expulso da posse, tornou-se mais um segmento marginalizado em nossa sociedade.
Obras na pista, trecho inicial em construção da rodovia Rio-Santos, na região de Bertioga, em 1975 - Foto: Arquivo/AE |
Os redatores do projeto - preocupados com a preservação ambiental como fator de desenvolvimento turístico - tinham certeza de que "a construção da rodovia teria consequências drásticas na região". Reconheciam, também, que a implantação era meta prioritária no governo federal, então em plena época de "Brasil Grande".
Já em 1968, haviam sido iniciados os estudos de viabilidade técnico-econômica para a construção de uma estrada entre as cidades doRio de Janeiro e Santos. O trecho Rio-Santos faz parte da BR-101, um eixo rodoviário cujos extremos situam-se em Osório no Rio Grande do Sul e em Fortaleza no Ceará, cruzando o país de norte a sul, paralelo e próximo ao litoral.
Conforme o texto do Projeto Turis, a estrada poderia ser considerada um importante equipamento turístico, uma vez que dava vazão a um grande intercâmbio provocado pela busca de praias e da natureza por parte das populações das grandes cidades do macroeixo Rio/São Paulo.
O texto do projeto reconhecia que o litoral Rio-Santos configura-se como uma estreita fita serpenteando pelos contrafortes da Serra do Mar. "Em nenhum outro ponto do litoral brasileiro a Serra do Mar se aproxima tanto do Oceâno Atlântico quanto nesta parte entre o Rio e Santos". Numa paisagem extremamente variada com uma costa recortada, foram disgnosticadas, ao longo desta região litorânea, cerca de 500 ilhas parcéis e lages.
Apresar do alerta e das propostas do Ptrojeto Turis na preservação ambiental desta região comofator de desenvolvimento turístico (a matéria-prima da indústria turística é a natureza), o traçado desta estrada aterrou cerca de 70 praias deste belo litoral.
Ainda em 1973, o paisagista Burle Max encaminhou ao Conselho Federal de Cultura um comovido relatório denunciando as agressões que estavam sendo praticadas contra o meio ambiente na região. "No trecho entre Angra dos Reis e Paraty, a multilação e a violação à natureza atinge proporções indescrtíveis: os cortes são feitos nas montanhas com brutalidade nunca vista, com mais de 100 metros de altura e essa terra é jogada das enconstas aterrando e soterrando as florestas".
Quando o trecho da estrada até Ubatua foi inaugurado, o engenheiro agrônomo Nelson Cembranelli Schimidt, então na base do Instituto Agronômico de Campinas, no Vale do Paraíba, demonstrou que o leito da rodovia funcionava com um dique represando as águas oriundas das nascentes da Serra do Mar. A água ali represada, que fez apodrecer a vegetação nativa, poderpa conforme o agrônomo, forçar o rompimento da estrada causando danos humanos e materiais incalculáveis.
O mesmo fenômeno repetiu-se anos mais tarde, na década de 80, uqndo no governo João Batista Figueiredo foi retomada a construção de alguns trechos da estrada entre Bertioga e São Sebastião.
Entretanto, um fato é verdadeiro: as agresões ambientais não cessaram quando a ligação Rio-Santos foi concluída. Ao contrário, iniciou-se, então, uma nova fase de devastação, cujo agente principal é a especulação imobiliária. Com frágeis equipamentos legais de proteção de uso do solo, as prefeituras dos municípios cortados pela estrada viram, pouco a pouco, muitas de suas florestas darem lugar a compos de golfe e quadras de tênis de poderodos empreendimentos turísticos.
Isto tudo, ao lado da privatizaçõa e poluição das praias que, ancestralmente, haviam pertencido aos caiçaras, pescadores artesanais neste litoral. Por outro lado, a precariedade de fiscalização dos órgãos responsáveis pela preservação ambiental deixa sem defesa áreas imensas das florestas primárias, assaltadas por palmiteiros e por caçadores e vendedores de pássaros.
O Parque Nacional de Bocaina, sob responsabilidade do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), com mil quilômetros quadrados de extensão, e que abrange os estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, tem somente oito agentes de defesa florestal atuando em sua área, sendo que um deles é responsável por todo o município de Paraty.
Os faróis do trator mais pareciam os olhos de Boitatá. As crianças, que ninca tinham visto coisa igual, se encolheram junto às saias das mães que também olhavam o monstro assustadas. Sob o impacto da pesada máquina, troncos de jequitibás, perobas e massarandubas centenárias iam tombando um a um.
Em poucas horas acontecia o que pareceu o prenúncio do fim do mundo para os caiçaras. A ocupação secular de gerações não destruíra o que o loteamento ou a estrada conseguiram em poucas horas.
E o caiçara que vivera isolado, com sua economia de consumo e com seus costumes e valores próprios, viu-se de repente inserido numa outra sociedade, sem saber o que significava e sem estar preparado para ela.
Se por um lado a construção da Rodovia Rio-Santos trouxe um desenvolvimento econômico a este litoral, por outro, foi a causa de uma perda de terra e marginalização de centenas de famílias caiçaras que antes viviam tranquilamente em suas posses.
Descendentes de índios, portugueses, negros e, também de numerosos piratas europeus que visitavam este litoral, o caiçara é um homem ajustado à natureza. Sempre vivendo perto do mar, é ele que rege seu destino.
Apesar de ser antiga região na colonização portuguesa (Paraty já foi o mais importante porto de exportação do país), esta zona costeira, durante a primeira metade do século, conheceu a estagnação econômica, permanecendo à parte do processo de desenvolvimento do país. Porém, na sua pobreza, o caiçara viva tranquilo.
Foram numerosas as disputas pela posse de terras nesta região costeira, sendo que a mais famosa, a luta dos caiçaras da Praia de Trindade contra o conglomerado multinacional Adela - Agência de Desarollo de la América Latina - composto por 280 multinacionais, durou cerca de dez anos e com inúmeros lances de violência, quando casas de caiçaras foram queimadas e jovens professoras, que insistiram em lecionar na comunidade, foram estupradas pelos jagunços da empresa.
No Estado do Rio de Janeiro, devido à própria fragilidade da estrutura jurídica ponde a Praia de Trindade, por exemplo, uma liminar concedida ao caiçara não foi respeitada pelo próprio juiz de direito de Paraty, os conflitos se deram mais abertamente com confrontos diretos e claros. Os funcionários do fórum de Paraty reconhecem que se todos os títulos de terra do município fosse verdadeiros, este teria três andares...
Já no Estado de São Paulo, o que se observou foi a pressão indireta obrigando o caiçara a sair da terra por um preço muito abaixo do seu valor. Expulso de sua posse, o destino, por via de regra, é o mesmo para todos. O antigo pescador, sem preparo para a vida na cidade, tenta a construção civíl.
O sonho de conclusão da Rodovia BR-101 acabou juntamente com o do "Brasil Grande". O trecho da estrada entre Santos e Ubatuba nunca foi concluído. Ficaram as cicatrizes e os cortes na Serra do Mar e na Mata Atlântica, além dos numerosos viadutos perdidos na floresta tropical, como cenário de um filme de aventuras sobre civilizações desaparecidas.
Perdido no meio da Serra do Mar, próximo à Caraguatatuba, existe um imenso viaduto abandonado, construído nos anos 70. É muito louco esta estrutura imensa perdida no meio da floresta. Alguém deve ter faturado muito com esta obra, é claro, e poucas pessoas sabem da existência. - Foto: Reprodução da internet |
Em Caraguatatuba, em meio à Mata Atlântica, há um viaduto abandonado de 50 metros de altura por 250 metros de comprimento. No trecho de Ubatuba e São Sebastião ainda é usada a ligação SP-55.
Porém, para todos os fins, essa ligação ficou sendo conhecida como BR-101, ou seja, a Rio-Santos. De concreto, o que sobrou foi um brutal aumento em nossa dívida externa, pois a estrada foi financiada com dinheiro estrangeiro.